Diretor de Praia do Futuro: "Acho homofóbico dizer que o filme é gay"

Cenas do filme viraram objeto de alarde em redes sociais do Brasil, dado o imenso número de relatos de evasão das salas de cinema antes do fim da projeção

por Yale Gontijo 26/05/2014 11:21

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 Divulgação/California Filmes
Cena de 'Praia do Futuro' (foto: Divulgação/California Filmes)
Quando Wagner Moura, um dos atores mais populares e admirados do cinema brasileiro, anunciou se sentir aliviado ao deixar o país para uma temporada de dois anos gravando uma minissérie sobre Pablo Escobar (uma produção internacional ligada ao cineasta José Padilha), todo mundo achou estranho. “Sinto um movimento conservador muito forte vindo por aí”, afirmou em uma entrevista que deixou o público brasileiro perplexo. Na última semana, as palavras de Moura ganharam ares de profecia. O intérprete do personagem mais popular do cinema nacional pós-retomada, o viril Capitão Nascimento de Tropa de elite, encara um misto de admiração e rejeição ao seu novo longa-metragem, Praia do Futuro, em cartaz há duas semanas nos cinemas brasileiros.

Donato (Wagner Moura), um salva-vidas de Fortaleza que decide deixar o Brasil para viver um romance com o alemão Konrad (Clemens Schick), enfrenta um acerto de contas com o irmão mais novo deixado no Brasil, Ayrton (Jesuíta Barbosa), anos depois. Numa narrativa exclusivamente masculina, há espaço para cenas de sexo homofoafetivas protagonizadas entre o brasileiro Moura e o alemão Schick. Esta semana, essas cenas viraram objeto de alarde em redes sociais do Brasil, dado o imenso número de relatos de evasão das salas de cinema antes do fim da projeção. Em alguns casos, porém, o mero ato de abandonar o cinema ganhou contornos homofóbicos visíveis.

O primeiro incidente aconteceu em Aracaju, com a ameaça de agressão física feita a um gerente de cinema perpetrada por dois clientes indignados com o conteúdo sexual do filme. No Maranhão, pelo menos 40 pessoas abandonaram uma outra sessão. Estas são as informações mais leves a circular na internet. Outros relatos se avolumaram. Um dos clientes da rede Cinepólis resolveu postar nas redes sociais um ingresso carimbado com os dizeres “Avisado”, pretensamente relacionado ao aviso verbal sobre o conteúdo sexual do filme ouvido na bilheteria do estabelecimento. A polêmica de internet foi desfeita em poucas horas e a resposta da redes de cinema era de que o carimbo referia-se à apresentação de documento de meia-entrada e não ao conteúdo do filme.

Claro, os produtores reagiram. Na página oficial de Praia do Futuro no Facebook, uma campanha  convida usuários a tentar movimentar a hashtag #HomofobiaNãoÉANossaPraia, relacionando espectadores e equipe do filme.

O cineasta Karim Aïnouz (Madame Satã e O céu de Suely), diretor de Praia do Futuro, defende a obra contra qualquer rotulação. “O filme não é gay. Acho um tanto homofóbico taxar qualquer filme como um filme gay. Quando você assiste Missão impossível ou Instinto selvagem você fica pensando que é um filme hétero? A gente precisa parar com isso. É politicamente perigoso. Estou ficando um pouco cansado”, desabafou Aïnouz. “A insistência para falar sobre a homossexualidade é maior no Brasil do que no exterior. Isso está ficando muito excessivo”, argumenta o cineasta, que apresentou o filme pela primeira vez no Festival de Berlim do ano passado.

À margem da polêmica
O empregado público Aderson Carneiro, 62 anos, sabia que Praia do Futuro tinha sido lançado em circuito comercial debaixo de muita polêmica e mesmo assim escolheu assistir ao filme. “A homoafetividade não deveria causar mais polêmica hoje em dia. Não me choquei nem um pouco com o que assisti”, revelou. A servidora pública Ana Elite, 47, não sabia da existência do buruburinho virtual da última quarta-feira quando escolheu assistir ao filme, em sessão vespertina do Espaço Itaú CasaPark. Ao fim da sessão, a espectadora enalteceu o script do filme.

“As relações familiares são as que mais se sobressaem no conteúdo. As cenas de sexo me pareceram realistas. Mas são uma coisa secundária, não há nada ali feito para chocar”, comparou. A colega de trabalho de Ana, Angélica Cordeiro, 45, parece ter matado a charada: “O que está acontecendo é que as pessoas estão detestando ver o ídolo global, o heroico capitão Nascimento, representando um papel gay. Na minha opinião, não há nada para chocar no filme”.

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