'Praia do Futuro' convida espectador a experimentar desafios da vida contemporânea

Rodado no Brasil e na Alemanha, novo longa de Karim Aïnouz aborda o amor entre homens

por Walter Sebastião 15/05/2014 06:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Alexandre Ermel/divulgação
(foto: Alexandre Ermel/divulgação)
'Praia do Futuro', o quinta longa-metragem do diretor cearense Karim Aïnouz, coloca diante do espectador o salva-vidas Donato (Wagner Moura), que impede o piloto de motocross alemão Konrad (Clemens Schick) de se afogar, vai para Berlim viver com ele e nunca mais dá notícias. Oito anos depois, o caçula Ayrton (Jesuíta Barbosa), para quem Donato é um herói, viaja para a Alemanha para saber o que aconteceu com o irmão. “Quero que as pessoas se emocionem com o meu filme”, afirma Karim, revelando o desejo de deixar o espectador arrebatado pelo que vê na tela.


Assim como os outros filmes do cearense, 'Praia do Futuro' fala de recomeçar a vida, apostar na verdade e de viver a sexualidade. Tudo isso posto com simplicidade, beleza (sem ostentação estética) e de modo extremamente cinematográfico. É assim que ele vai criando a trama marcada por questões existenciais (o amadurecimento), éticas (a tensão entre verdade e ocultamento) e contemporâneas, ao falar do íntimo sem ser intimista.

Veja mais fotos do filme

Confira os horários das sessões em BH


“A coragem de inventar o futuro é o coração de 'Praia do Futuro'”, resume Karim. O medo, elemento dominante, está em todos os lugares. “Quero provocar nas pessoas a vontade de se jogar na vida, de mudar e de experimentar coisas novas”, afirma o diretor, que chegou a definir o longa como “dois lugares, uma aventura e duas histórias de amor”. Os lugares são Fortaleza e Berlim, cidades onde ele já morou. A aventura está na busca em meio a uma história misteriosa. O amor, que move as atitudes do personagens, está tanto na atração sexual pelo outro quanto no laço familiar entre os irmãos.

Karim Aïnouz não teme ver a palavra “romântico” aplicada a seu novo longa. “Acho muito bom se apaixonar. É maravilhoso ouvir uma música e ficar apaixonado por ela”, observa. Foi um desafio encontrar o tom para falar de sentimentos nessa história de amor entre homens atravessada por coragem e medo, perdas e ganhos, virilidade e delicadeza.

“Procurei sensações muito envolventes e bonitas, mas que a gente não sabe explicar direito”, revela Karim, suspeitando que o nome disso seja afeto, delicadeza, romantismo ou tesão. Para tanto, diz que precisava de atores “que não fossem perfeitos”. Ou seja, homens fortes e vulneráveis, capazes de conjugar o masculino e a sentimentalidade. “Com jeito quase violento, mas que, descascados, tivessem algo muito delicado”, acrescenta. O trio de protagonistas está muito bem em cena.

Colaborou na construção desse aspecto o fato de os três terem histórias artísticas diferentes. Wagner Moura surge em 'Praia do Futuro' depois de viver tipos fortes no cinema e na TV. “Ele é grande e se apequenou para fazer o personagem. Achei isso muito bonito”, elogia Karim. Por sua vez, Clemens Schick é homem de teatro. “Tomei posse não só do talento dele, mas dos silêncios. Schick tem forte presença em cena”, afirma. “Jovem e talentoso, o Jesuíta tem crueza boa de capturar”, explica.

'Praia do Futuro' mantém as características da obra de Karim. “Gosto de mostrar experiências coletivas por meio de vivências íntimas que permitam refletir sobre o nosso tempo de forma politicamente relevante”, ressalta. O universo masculino entra em cena depois de dois trabalhos dele com personagens femininas – 'Alice', série para o canal pago HBO, e o longa 'O abismo prateado'. “Gostaria de chegar ao espectador não com discurso, mas como a poesia chega”, conclui.

Parque de diversões


Cineasta e artista plástico, Karim Aïnouz tem 48 anos e nasceu em Fortaleza. Depois de estudar arquitetura na Universidade de Brasília (UnB), ele fez mestrado em cinema na Universidade de Nova York. Seus filmes já foram exibidos nos festivais de Cannes, Berlim e Veneza.

“Aprendi a filmar fazendo. As pessoas acreditavam no projeto e fui em frente. Para mim, é como ganhar uma viagem para um lugar que não conheço”, acrescenta. O cearense conta que só agora começa a conhecer um pouco melhor o ofício. Se hoje já chega ao set mais tranquilo, antes era “um desespero”, confessa, comparando filmar ao prazer da criança no parque de diversões.

“Faço cinema porque sou um péssimo pintor”, afirma, lembrando que as artes visuais e o curso em Nova York foram essenciais para sua formação. “Não dá para adentrar o universo do cinema ignorando que ele não nasceu ontem. É preciso indagar onde estou na história da linguagem que utilizo. Neste início de século 21, vivemos a falência da narrativa clássica. O cinema pode ser muito mais do que é, não precisa ficar descrevendo as coisas”, acredita. “Não é mais possível fazer cinema só discursivo. Precisamos provocar a imaginação do espectador, criar mais interação poética com ele”, adverte.

Karim lembra que o cinema, quando surgiu, era experimental e não narrativo. “Ele trazia algo mágico entre o circo, as artes visuais e o surrealismo. É nisso que me inspiro. Só muito mais tarde ele foi sequestrado pelo teatro e a literatura”, provoca. De acordo com o diretor, o formato digital convida à reinvenção da sétima arte.

LONGAS DE KARIM
'Praia do Futuro' (2014)
'O abismo prateado' (2013)
'Viajo porque preciso, volto porque te amo' (2010, parceria com Marcelo Gomes)
'O céu de Suely' (2006)
'Madame Satã (2002)'

 

Assista ao trailer de 'Praia do Futuro':

 

 

MAIS SOBRE CINEMA