Novo filme do diretor de Amélie Poulin é exibido em BH

'Uma viagem extraordinária' está na programação do Festival Varilux de Cinema Francês e é exibido por três dias em BH. No circuito comercial, só estreia no Brasil depois de passar nos EUA

por Mariana Peixoto 12/04/2014 00:13

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
STR/AFP
Diretor de 'Uma viagem estraordinária', Jean-Perre Jeunet assume que sucesso como o de seu longa 'Amélie Poulin' só acontece uma vez na vida (foto: STR/AFP)
Rio de Janeiro – Há poucos dias no Brasil, o cineasta francês Jean-Pierre Jeunet se deparou com algumas situações que inflaram seu ego. Viu na vitrine de uma loja carioca produtos de Amélie Poulain. Foi abordado ainda por uma garota que trazia tatuada no braço a imagem da garçonete de Montmartre interpretada por Audrey Tautou. “Moro bem ao lado do café de Amélie. Semana passada, vi seis pessoas, ao mesmo tempo, tirando fotos de lá. Quatorze anos depois do filme! Fico muito orgulhoso, mas tenho consciência de que Amélie só acontece uma vez na vida.”

Jeunet participa do Festival Varilux de Cinema Francês – que até quarta-feira ocorre em 42 cidades – com Uma viagem extraordinária, sua primeira incursão no universo do 3D. Filmado nos Estados Unidos e falado em inglês, o filme relata as aventuras de T. S. Spivet, um garoto superdotado que, ao receber um prêmio, embarca sozinho numa viagem num trem de mercadorias que atravessa o país. Um segredo de família o faz voltar atrás. O longa-metragem é baseado no romance O mundo explicado por T.S. Spivet, de Reif Larsen.

O fantástico mundo de Amélie Poulain vendeu, na França, 8 milhões de ingressos. Lançado em outubro naquele país, Uma viagem extraordinária alcançou apenas 650 mil espectadores, tornando-se a pior bilheteria (em seu país natal) de um filme de Jeunet (também diretor de Delicatessen, 1991, e Alien – A ressurreição, 1997). Seja como for, a produção, que até agora só foi exibida no circuito comercial de alguns países europeus, ainda enfrenta outro problema.

“Harvey Weinstein (poderoso produtor da indústria americana) comprou o filme. Ele quer reeditá-lo, mas o corte final é meu. Vinte e dois anos atrás, quis fazer o mesmo com Delicatessen. Eu disse OK, desde que tirasse meu nome dos créditos finais. Ele não fez nada, mas neste novo filme acabou embargando.” Após a negociação com Weinstein, Uma viagem extraordinária só poderá entrar no circuito comercial depois que estrear nos EUA. A previsão é maio – no Brasil, foi comprado pela Califórnia Filmes, que ainda não sabe quando vai exibi-lo.

Sem pudor Para além de questões de bastidores, Jeunet é todo prosa. Sem o menor pudor, afirma ser o seu filme “o melhor 3D já feito”. “O 3D está na própria concepção do filme, foi pensado para tal, não é apenas um recurso comercial.” Perfeccionista, ele corrigiu o processo em todos os detalhes e trabalhou com profissionais que atuaram com Martin Scorsese em A invenção de Hugo Cabret (2011). “Se há algum problema, o espectador tem dor de cabeça.” O que não é o caso, ainda que o cineasta tenha se decepcionado com o processo quando o longa chegou aos cinemas. “As próprias salas estão matando o 3D ao não investir em óculos de qualidade.” No Festival Varilux, apenas algumas cópias são no formato. Em BH, todas as sessões do filme serão em 2D.

Encabeçando o elenco – que traz Helena Bonham Carter e Judy Davis – está o garoto Kyle Catlett, conhecido como Joey, o filho do serial killer Joe Carroll na série The following. “É fantástico, o menino é campeão de artes marciais, fala cinco línguas, está sempre disposto”, elogia Jeunet, que enfrentou problemas para tê-lo no filme. Catlett filmou Uma viagem extraordinária ao mesmo tempo em que gravava a primeira temporada da série. “E a TV era sempre prioridade. Houve momentos em que quase desisti de filmar, mas acabei trabalhando com dublês e colocando Kyle depois na cena”, conta Jeunet. A despeito da língua e da própria narrativa, Uma viagem extraordinária é uma produção franco-canadense. “E sabe por quê? Porque eu queria ter liberdade.” Mesmo assim, ele se deparou, num momento posterior, com o Tio Sam. Diante disso, Jeunet arremata: “Não dá para evitar os americanos.”

. A repórter viajou a convite da produção do evento

Califórnia Filmes / Divulgação
Primeiro 3D de Jean-Pierre Jeunet, 'Uma viagem extraordinária' será exibido em BH amanhã, na terça e na quarta, só que em 2D (foto: Califórnia Filmes / Divulgação )

• BASTIDORES DO FESTIVAL

Désolé
Principal lançamento do festival, Yves Saint Laurent não foi exibido quinta à noite, no Cine Leblon, durante a abertura do evento. Toda a comitiva de cineastas franceses estava presente (incluindo, é claro, o diretor da cinebiografia, Jalil Lespert). A “chave” correta (na verdade uma senha) que dá acesso à cópia digital (diferente para cada sala) não havia sido enviada a tempo.

Jamais
Em entrevista ao britânico The Guardian, em janeiro, a atriz Kristin Scott Thomas anunciou sua aposentadoria aos 53 anos. “Fiz coisas que sei muito bem como fazê-las em diferentes línguas. Estou entediada, então vou parar.” Pois mesmo se ela não se aposentasse precocemente, o escritor e diretor Philippe Claudel já havia parado com ela. No Brasil lançando Antes do inverno, Claudel disse que o temperamento de Scott Thomas é dificílimo – um contraponto à leveza de Daniel Auteuil, com quem ela contracena no drama . “É uma atriz fantástica, sou fascinado por sua imagem. Mas filmar com ela é constantemente um drama, uma batalha.” E olha que ele insistiu: também a havia dirigido em Há tanto tempo que te amo (2008).

Enchanté
Por outro lado, a estrela desta edição do Festival Varilux, Isabelle Huppert, é só elogios. Com dois filmes na programação do evento – Uma relação delicada e Um amor em Paris –, ela só chega ao Brasil na segunda-feira. Já preparando o caminho, Marc Fitoussi, que a dirigiu no segundo filme, afirmou que já pensa em Huppert para uma próxima produção. Fitoussi cria os papéis especialmente para ela. A primeira vez que trabalharam juntos foi em Copacabana (2010), em que Huppert contracenou com a própria filha, Lolita Chammah.

Em BH
Uma viagem extraordinária será exibido no Cine Belas Artes amanhã, às 15h35 (cópia dublada) e na terça, às 19h20 (legendada). No Ponteio, as sessões serão no domingo, às 15h30 (dublada), e na quarta, às 19h15 (legendada). Não haverá exibição em 3D.

MAIS SOBRE CINEMA