'Rio 2', animação dirigida pelo carioca Carlos Saldanha, estreia na próxima quinta

Produtores querem superar a bilheteria do filme lançado em 2011, que chegou a US$ 484 milhões

por Mariana Peixoto 23/03/2014 06:00

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Fox/divulgação
Em 'Rio 2', a simpática família de araras vive aventuras na Amazônia depois de cruzar os céus do Brasil. A cidade colonial de Ouro Preto e a Bahia fizeram parte do tour (foto: Fox/divulgação )
Rio de Janeiro – Rio, só se for o Amazonas. Ou então o Negro, pois o De Janeiro só aparece nas cenas iniciais. Com 'Rio 2', a continuação do blockbuster lançado em 2011, que colocou o diretor Carlos Saldanha entre os maiorais da animação, a história da ararinha-azul Blu ganha narrativa mais brasileira em contraponto à carioquíssima sequência original. Quinta-feira o filme estreia no país com a missão de, se não suplantar, pelo menos alcançar a bilheteria do primeiro, que chegou a US$ 484 milhões em todo o mundo.

'Rio 2' é, sem dúvida, a sequência mais rápida da história do cinema contemporâneo. Não em termos de produção, pois Saldanha e sua equipe (em torno de 500 pessoas) levaram três anos para dar cabo da segunda narrativa protagonizada por Blu, mas na decisão de realizá-la. Em 2011, apenas dois meses depois de 'Rio' chegar aos cinemas, a Fox e o estúdio Blue Sky decidiram pela continuação.

“A única facilidade do primeiro para o segundo filme é você conhecer os personagens bem melhor. Mas para por aí, pois as dificuldades só aumentam. Você sente pressão e tenta fazer melhor”, afirmou o diretor carioca Carlos Saldanha, de 45 anos, radicado há mais de 20 nos Estados Unidos. Na última semana, Saldanha, os compositores Sérgio Mendes (outro brasileiro que migrou há décadas para os EUA) e Carlinhos Brown, além do ator Rodrigo Santoro (dublador de Túlio, um dos poucos personagens humanos do filme), conversaram com a imprensa no Parque Lage, aos pés da Floresta da Tijuca.

Floresta Na continuação, a ararinha-azul Blu é um respeitável pai de família. Casado com Jade, tem três filhotes. No Rio de Janeiro, o casal vive na na casa de Linda, a salvadora de Blu, outra que se casou (o marido é o cientista Túlio). Os dois fazem uma incursão pela Amazônia e lá descobrem outras ararinhas como as que têm em casa. Ao saber da descoberta dos amigos, Jade resolve tirar Blu de sua zona de conforto e partir, com toda a família, para a floresta no Norte do Brasil.

A jornada passa por diversas regiões do país até o desembarque no local de origem da fêmea, que descobre não existirem apenas ararinhas (aos milhares) como ela, como também o pai, que julgava perdido. Blu tem que se adaptar à vida na floresta, a um sogro nada amigável, a um rival e, acima de tudo, à ameaça do homem, que depreda a natureza em busca do dinheiro fácil. Ele ainda vai se reencontrar com um antigo inimigo, a cacatua Nigel, agora acompanhado de uma sapinha venenosa e apaixonada.

“Tudo o que diz respeito à natureza é mais complicado em computação gráfica. Foi difícil criar o Rio de Janeiro, mas o mais trabalhoso não foi fazer a rua, e sim a areia, a montanha, o mar. Quando decidi pela Amazônia, a complexidade foi maior, pois só há floresta e tivemos de fazer as árvores que a compõem. Criar a textura da água do Rio Negro, uma corredeira, por exemplo. A preparação da cena do barco descendo a corredeira leva seis meses”, explicou Saldanha.

Bola Toda a saga de Blu e sua família é entremeada por passagens e elementos da vida brasileira, seja do Norte ou do Sul. O futebol, unanimidade nacional, está obviamente presente, numa partida entre ararinhas-azuis e araras-vermelhas. A identificação é também óbvia com a Festa de Parintins, no interior do Amazonas. Em junho, celebra-se a disputa entre os bois Garantido (de cor vermelha) e Caprichoso (azul). Nesse caso, Saldanha admitiu que foi pura coincidência, pois ele não sabia das cores que demarcam cada um dos “times”. “As únicas araras que poderiam estar num grupo distinto das azuis eram as vermelhas, pois as amarelas também têm a cor azul. Então, não se saberia quem era quem na cena. Depois o Carlinhos (Brown) me disse que era igual na Amazônia”, contou o cineasta.

A partida de futebol, às vésperas da Copa do Mundo, foi (e não foi) uma coincidência. “Queria ter colocado o futebol já no primeiro filme, mas a história não pediu muito. Então, no segundo decidi que iria fazê-lo – sem Copa ou não”, acrescentou Saldanha, que não vê na história de Rio o reforço de estereótipos brasileiros. “Trabalho a essência do que pretendo contar, queria mostrar elementos com os quais não só os brasileiros pudessem se conectar. O estrangeiro também tem de entender o filme. Não há como fugir de coisas-chave como o Teatro Amazonas, em Manaus, o encontro das águas no Rio Amazonas. Quis valorizar as coisas boas do Brasil”, conclui.

Trupe internacional e música brasileira

Carlos Saldanha explicou que 99,9% da equipe de 'Rio 2' é internacional. Leia-se: roteiristas, técnicos, animadores. Pois na parte musical é meio a meio. Mais uma vez, Sérgio Mendes assina a produção executiva da trilha sonora, composta pelo britânico John Powell. Entretanto, o que vai ficar na cabeça do público, brasileiro e gringo, são as canções de Carlinhos Brown, os barulhinhos do Uakti, a percussão dos Barbatuques e a voz de Milton Nascimento, que domina uma cena em que um barco desce o Rio Amazonas com a canção 'Favo de mel'.

“Como as araras cruzariam o Brasil (elas sobrevoam Ouro Preto e Brasília, além de fazer uma parada em Salvador, incluída por causa de Brown), a gente poderia realizar musicalmente uma ideia maior, em vez de ficar centrado em escola de samba (como foi o caso de 'Rio 1')”, afirmou Mendes.

Ainda que boa parte das 14 canções seja interpretada em inglês (por Janelle Monáe e Bruno Mars, além dos atores/dubladores Anne Hathaway, Andy Garcia e Jamie Foxx), a base das letras está na musicalidade da língua portuguesa. “Foi meio surrealista, pois pedíamos aos letristas que escrevessem em inglês, mas soando em português. A ideia era usar a onomatopeia brasileira, bem difícil. Por exemplo: banho de cachoeira. Pedimos uma letra em inglês que soasse como ‘banho de cachoeira’, mesmo que o significado fosse outro. A intenção foi manter a sonoridade brasileira, mesmo em outra língua”, explicou o produtor executivo.

Rodrigo Santoro dublou Túlio em sua língua natal e em inglês. Primeiro, fez a dublagem em inglês, paralelamente à realização do filme. A interpretação de Santoro colaborou para que os animadores trabalhassem no gestual do personagem.

“Numa das primeiras sessões de dublagem, havia uma camerazinha em frente ao microfone para que eles pudessem observar minha expressão corporal. Ao longo de um ano fiz quatro ou cinco sessões, então pude construir o personagem pouco a pouco”, comentou o ator. Quanto a dublar, não há dúvida: é mais fácil em português, garante Santoro.

A repórter viajou a convite da Fox

Cartão-postal

O primeiro 'Rio' trazia belas imagens do Cristo Redentor, Pão de Açúcar, arcos da Lapa, praias da Zona Sul e até do bondinho de Santa Teresa. A “apoteose”, claro, era o carnaval em plena Marquês de Sapucaí. Carlos Saldanha foi acusado de apostar no estereótipo do paraíso carioca para turista ver, cercado de samba, alegria e belezas naturais. Antes de contar a história de Blu, o cineasta se destacou como codiretor de 'Era do Gelo' e por assinar os blockbusters 'Era do gelo 2 e 3'.

Assista ao trailer do filme:

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