'Alemão' estreia com 350 cópias e disposto a oferecer novo viés ao gênero policial

Dirigido por José Eduardo Belmonte, longa tem as UPPs como centro da trama, que ganhará continuação

por Ana Clara Brant 13/03/2014 06:00

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Paprica/Downtown/divulgação
Os atores Milhem Cortaz, Caio Blat, Otávio Müller e Gabriel Braga Nunes interpretam policiais encurralados dentro de uma pizzaria no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro (foto: Paprica/Downtown/divulgação)
Antes mesmo da estreia, a continuação já foi anunciada. Alemão entra em cartaz nesta quinta-feira, com 350 cópias, e sua sequência começa a ser produzida no fim do ano, asseguram o diretor José Eduardo Belmonte e o produtor Rodrigo Teixeira. “O dois é fato. A história será para a frente, mas pode ter coisas no roteiro que voltem para trás. O elenco está praticamente fechado, já conseguimos os recursos. Será um soco na cara do Brasil, vamos levantar bandeira bem mais pesada que a do primeiro”, garante Teixeira. “Será um filme bem mais político, com roteiro impactante”, completa Belmonte.

O elenco de Alemão reúne grandes atores, como Caio Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr., Milhem Cortaz e Otávio Muller, além de contar com participações especiais de Cauã Reymond e Antônio Fagundes. O filme estreia justamente no momento em que se discute nova ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em meio a ataques de traficantes a Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, que resultaram na morte de três PMs.

Apesar de inspirado em um fato, ocorrido em novembro de 2010, o longa-metragem é de ficção. A história se passa nas 48 horas que antecedem a histórica ocupação policial do Complexo do Alemão. “Sempre quis fazer filme policial, um dos gêneros de que mais gosto. Minha ideia foi inverter os papéis: antes da operação, traficantes descobrem cinco agentes infiltrados na comunidade e caçam esses policiais. Esbocei o argumento, mas o roteiro foi escrito pelo Gabriel Martins”, conta Teixeira, referindo-se ao mineiro de Contagem, um dos talentos da produtora Filmes de Plástico.

O produtor conta que se investiu em cada personagem e, principalmente, no roteiro, destacando o papel de Belmonte nesse processo. “Entre novembro e março, a gente trabalhou diariamente no roteiro. Não me lembro de ter feito algo assim. Todos os dias alterávamos uma cena, uma fala. Muita gente participou, incluindo os atores – o Cauã deu muitos palpites. Esse é o roteiro mais colaborativo de que já participei. O mérito é todo do diretor, que orquestrava isso durante a filmagem”, frisa Rodrigo Teixeira.

Conhecido por seu cinema de personagens, José Eduardo Belmonte fez questão de estrear no gênero favela movie deixando evidente sua marca. Paulista radicado em Brasília, ele diz que há “um ranço” no cinema nacional: entender a realidade pela sociologia ou pela antropologia, mas nunca pela psicologia. Para ele, esse paradigma ficou ultrapassado. “Dá para pensar os grandes temas pelas pessoas. O caminho é esse”, defende.

Belmonte considera 'Alemão', ao mesmo tempo, thriller e filme psicológico. Inspirado em produções como 'Os sete samurais', 'Cães de aluguel' e 'Um dia de cão', o diretor conta que o novo trabalho foi um desafio, pelo fato de ele não ter nem o know how nem a pirotecnia do cinema norte-americano. “Um dos principais ensinamentos dos diretores coreanos e de Hong Kong é o cinema de ação baseado na psicologia. Veja 'Tubarão': praticamente não se mostra o bicho. Ação não é carro explodindo. Ação é montagem, trilha-sonora. Foi isso que tentamos mostrar aqui”, salienta.
 
Time de peso Parceiro antigo de Belmonte, Milhem Cortaz interpreta um dos policiais de 'Alemão'. Acostumado a participar de filmes como 'Carandiru', 'Tropa de Elite' e 'Assalto ao Banco Central', o ator se diz atraído por uma boa história – e não pelo personagem. Para Milhem, o longa de Belmonte o fez questionar várias coisas em sua própria vida.

“Rodei o filme quando completei 40 anos. Nesse período, você amadurece em vários aspectos: vira homem mesmo, pai de família e tal. O fato de o personagem ficar confinado no porão com um monte de gente me fez refletir sobre várias coisas. Eu, o Milhem, tive de ficar preso ali. Você começa a repensar muita coisa. Foi um processo interessante”, revela. Este ano, o ator terá várias estreias na telona: 'Joãozinho Trinta', 'O lobo atrás da porta' e 'O gorila', dirigido pelo próprio Belmonte.

O veterano Antônio Fagundes frisa que, apesar de fazer participação especial em 'Alemão', seu papel foi fundamental para costurar a história. O ator vive o delegado encarregado de comandar uma operação secreta. “Ele tem um arco dramático bacana. Fica sofrendo do lado de fora, sem saber o que está acontecendo. Acho muito válido relembrar o episódio do Morro do Alemão, tão marcante para a história do Brasil, e inaugurar essa parceria com o Belmonte. Espero que seja a primeira de várias”, conclui.

Novo olhar sobre a favela - Crítica

'Alemão', do diretor José Eduardo Belmonte, trata de favela, polícia e traficantes, mas é, sobretudo, um filme que trata de gente. Por isso, emociona. O pano de fundo é a histórica invasão do complexo de favelas cariocas: cinco policiais estão infiltrados na comunidade, mas suas identidades são descobertas pelos bandidos. Isolados no porão de uma pizzaria, eles tentam encontrar uma maneira de fugir. O elenco tem nomes consagrados – Antônio Fagundes, Cauã Reymond, Caio Blat, Milhem Cortaz, entre outros – e uma revelação: a jovem atriz brasiliense Mariana Nunes. Também chamam a atenção jovens artistas moradores do Alemão: Jefferson Brazil, Micael Borges, Marco Sorriso e MC Smith.

Sem dúvida, um dos grandes méritos está no elenco, mas o filme tem outros destaques, como roteiro, fotografia, direção e a trilha sonora – orquestrada e com direito a funk e rap – assinada pela dupla Guilherme e Gustavo Garbato.

Da leva de produções favela movie, 'Alemão' traz à tona um novo olhar sobre o tema. Mais do que longa-metragem policial, ele fala de esperança, superação e – por que não? – de amor.

Cotação: Muito bom

Assista ao trailer do filme:

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