Lupita Nyong'o, melhor atriz coadjuvante do Oscar, caiu nas graças do mundo

Atriz está nas telas com '12 anos de escravidão' e 'Sem escalas'

por Ricardo Daehn 10/03/2014 09:17

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REUTERS/Danny Moloshok
(foto: REUTERS/Danny Moloshok )
Assunto até presidencial — o chefe de governo queniano, Uhuru Kenyatta, que definiu, via Twitter, “Você é o orgulho da África” —, a atriz mexicana (criada no Quênia) Lupita Nyong’o sabe que está na hora de “surfar, na onda, o máximo que puder”. Seja no Facebook, no Twitter ou nas publicações de fofoca (que detectaram indícios de romance  com o ator Jared Leto), ela segue humilde. Mesmo do alto de sapatos chiques que complementam o look invejado a cargo da estilista Micaela Erlanger, adepta de jogar com peças da Ralph Lauren (no Globo de Ouro) e da Gucci como o ousado vestido turquesa usado para a cerimônia de entrega do Screen Actors Guild. Se moda é ditame, como acreditam alguns, a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante — numa vibração positiva (vale lembrar que Lupita deriva de homenagem à padroeira Nossa Senhora de Guadalupe) — imprime um exemplo soberano.

A humildade dela, celebrada pela mídia, teria origem nos “pais fenomenais”, nada menos do que um senador e professor de ciência política e uma diretora de fundação de combate ao câncer. “Estressada, mas abençoada” como se definiu, nos bastidores da festa do Oscar, Lupita destacou que ambos “conservam a humildade de servir” e que seus “feitos são mais importantes do que a fama”. Seguir “esperançosa, positiva e relaxada” até a reta final foi dos méritos da moça que, de posse do Oscar, confessa sentir-se como o Willie Wonka na fábrica de chocolates.

A imbatível combinação do dourado com a beleza negra (ou “escura”, como defende a atriz), só tem rendido elogios para a intérprete de 30 anos. Abraçada por Liza Minnelli e comparada à jamaicana Grace Jones (pelo diretor Steve McQueen, de '12 anos de escravidão'), a atriz experimenta da “perturbadora” vida quase conjugal com paparazzi. Se dominou as notícias, das rádios às emissoras de tevê, no Quênia, moça que é o novo rosto Miu Miu se aproximou ainda mais de uma elegância à la Michelle Obama, com uma distinção feita pela filha da vencedora do Prêmio Nobel Wangari Maathai: “Se ela pôde, talvez eu possa” repercutiria Lupita, como modelo, entre pessoas mais desanimadas. “Ela tem um senso próprio”, corroborou, pela internet, o fashionista Teri Agins.

Passado o Oscar, a postura do novo xodó de Hollywood reacendeu orgulhos, na linha da poeta e ativista política Maya Angelou. “Aprendi que não preciso ser qualquer outra pessoa; que ser eu mesma é muito bom. Ao me manter nesse caminho, desfruto de coisas extraordinárias tais como esta (o Oscar). Você sabe, não levei em conta que o Oscar fosse inevitavelmente possível; mas não descartei do meu domínio, esse é o diferencial: você deve dar chances ao impossível para que ele se materialize”, reiterou a atriz.

Descolada do que seja forjado — caso de como ressoou, e fracassou, a implantação da primeira princesa negra da Disney (em 'A princesa e o sapo') — Lupita Nyong’o se impõe, e é coroada, pela autenticidade, na raça. Emocionante foi o discurso em que discorre sobre a tonalidade da pele, e que encerra com teor de otimista didatismo: “Espero que minha presença nas telas e nas capas das revistas, encaminhe você, menina, para uma jornada similar”.

“Ter ganhado, no coração de tantas pessoas, independentemente do prêmio, foi algo inacreditável”
Lupita Nyong’o, atriz

Curiosidades

Foi a quarta mexicana (e única ganhadora) atriz indicada ao Oscar. Antes, vieram Katy Jurado, Salma Hayek e Adriana Barraza.

Ao menos 22 prêmios chegaram às mãos da atriz, pelo desempenho em '12 anos de escravidão'. Dos mais importantes: o Oscar, o da Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e o Screen Actors Guild (SAG).

Nervosa e estreante, no set de '12 anos de escravidão', foi encorajada por Michael Fassbender: “Você é meu par”, teria dito.

Meio afastada do assunto central do longa, resolveu se nutrir das dores e cruéis enredos de vida de negros, comparecendo ao National Great Blacks (Baltimore).

Antes de ser atriz, Lupita chegou a ser assistente de direção do filme 'O jardineiro fiel', de Fernando Meirelles

O céu sobre os ombros

Há dez dias, foi Lupita quem incendiou um banquete que celebrava as mulheres negras em Hollywood. Desenterrando a carta de uma fã, que fez seu “coração sangrar”, ela citou uma pop star camaronesa que lançou mão de creme de clareamento de pele. E emendou, com a atual responsabilidade (nos moldes do que sentiu, ao assistir a 'A cor púrpura') de impedir que negras se sintam “não bonitas”, na comparação ao padrão alcançado pela modelo sudanesa Alek Wek. Num duro aprendizado, foi a mãe que lhe incutiu: “Não se adquire nem se come ou se consome beleza: é algo que se deve ser. A beleza fundamental está na compaixão por si e por quem lhe rodeia”, simplificou.

Cutucada sobre um crédito pendente para a Academia Mexicana de Cinema na conquista de seu quinhão, a atriz, objetivamente, preferiu reclamar para si os méritos. Não que dispense os hábitos latinos — precedendo a maratona de cerimônias em tapetes vermelhos, por exemplo, ela se deleitava com tacos de carne —, mas a moça formada na Escola de Drama de Yale prefere idiossincrasias, na divisão de virtudes, como faz no discurso do Oscar.

“Tenho a certeza de que os mortos pairam por cima de você, espiando, e se sentem tão agradecidos quanto eu estou”, disse, ao diretor Steve McQueen, ainda no palco da festa. Intérprete da resignada e abusada escrava Patsey, um símbolo supremo de dor em '12 anos de escravidão', Lupita louvou McQueen: “Ele honrou pessoas (os escravos) que não foram aclamadas por muito tempo, fazendo este filme, e sinto que, com isso, espíritos foram honrados”. O diretor, por outro lado, depois de testes com 1000 atrizes, encontrou Lupita como agulha em palheiro, depois de, arrebatado, rever uma fita com testes da musa negra.

Em meio ao frenesi que a atriz chama de “gigantesca sorte”, ela se regozija, diante de ações como a de um seleto time de rugby, dono de enorme faixa de agradecimento (disseminada no Instagram). Ao colega de cenas Michael Fassbender, coube a retribuição de gentilezas, com um “você foi meu impulso”. Gentileza, de fato, de uma propulsora de mudanças, capaz de fomentar discussões sobre futuro apoio às artes com o presidente Uhuru Kenyatta. Outro patamar para a estreante que, no passado, arguiu o pai se conhecia Brad Pitt, produtor de '12 anos de escravidão', para ouvir a pronta resposta: “Não conheço ele, pessoalmente, mas estou feliz com o fato de você ter um trabalho”.

 

 

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