Festival dedicado ao documentário, É tudo verdade tem programação gratuita em BH

Evento já passou por várias capitais brasileiras. Na abertura será exibido o longa-metragem 'Mataram meu irmão', de Cristiano Burlan

por Sérgio Rodrigo Reis 20/08/2013 00:13

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 É tudo verdade/Divulgação
A realidade do Capão Redondo, periferia de São Paulo, é tema de Cristiano Burlan no filme 'Mataram meu irmão, parte da triologia luto do cineasta (foto: É tudo verdade/Divulgação)

Se existe uma marca na 18ª edição do festival de documentários 'É tudo verdade' é a diversidade. No evento, que chega em itinerância a partir de amanhã a Belo Horizonte, depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Campinas, é impossível, como em outras épocas, identificar uma tendência, linguagem ou estilo. A hora agora é de valorização de produções mais antropológicas, históricas, experimentais e conceituais. “Vivemos uma situação de muita diversidade estilística e temática dentro do documentário brasileiro”, afirma o criador do festival, Amir Labaki.

A sessão de abertura, amanhã, às 20h, no Oi Futuro, será com a pré-estreia do longa vitorioso na disputa brasileira, 'Mataram meu irmão', de Cristiano Burlan. Ele virá à capital para debater a produção e ainda para ministrar um workshop gratuito sobre seu método de trabalho. A seleção realizada para a capital contempla 10 títulos das várias mostras do festival, incluindo a homenagem especial ao filme 'Jango' (1984), de Sílvio Tendler, clássico sobre o presidente deposto pelo golpe militar de 1964, e 'Entusiasmo' (1930), primeiro documentário sonoro do mestre soviético Dziga Vertov.

Produções que tiveram recente projeção internacional serão exibidas na mostra, como o longa 'A máquina que faz tudo sumir', da diretora estreante Tinatin Gurchiani, da Geórgia, no Leste Europeu. Terão destaque ainda o israelense 'Os guardiões', de Dror Moreh, um dos finalistas do Oscar deste ano e vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Amsterdã (IDFA) de 2012, e o americano 'Nosso Nixon', de Penny Lane, que abriu a edição deste ano do New Directors/New Films, do Lincoln Center de Nova York. “Achei bacana mostrar o que está chegando na cena internacional. Lá fora as produções também são diferenciadas em relação às estéticas e linguagens.” O filme 'Parque do povo', de Libbie D. Cohn e J. P. Sniadecki, é aposta no radicalismo da linguagem. Feito por jovens cineastas americanos, foi rodado na China, aproveitando as facilidades da tecnologia digital, numa única tomada, sem cortes.

“Procuramos realizar uma seleção para Minas que fosse representativa das tendências mais marcantes da edição principal, ocorrida em São Paulo e no Rio”, conta Amir. Se o filme de Cristiano Burlan 'Mataram meu irmão' fica entre o documentário social e o social e investigativo, além de ser produção independente marcante e formalmente rigorosa, o documentário 'Das almas', do estreante Tiago Tambelli e Guilherme Canton, chega com um viés mais antropológico, ao propor estudo particular da religiosidade do interior do país. Outro exemplo da diversidade é 'Ozualdo Candeias e o cinema', de Eugênio Puppo, que foi feito a partir da recuperação de material de arquivo.

Realidade

O documentarista Cristiano Burlan teve a vida entremeada por tragédias. O irmão Rafael, de 22 anos, foi assassinado em 2001 em Capão Redondo, na periferia de São Paulo. O pai, que era pedreiro, se acidentou no trabalho três anos depois e faleceu. A mãe também foi assassinada brutalmente em 2011. Para tentar entender o que tantas situações difíceis significavam em sua própria existência, ele buscou se expressar por meio do cinema. “Queria entender tudo isso em minha vida”, conta ele, responsável pela trilogia do luto. No documentário 'Construção' buscou as lembranças do pai. Em 'Mataram meu irmão', faz referência ao início da trágica epopeia e, atualmente, anda às voltas com a ideia de rodar 'Elegia de um crime', sobre a situação ocorrida com a mãe.

A preocupação foi a de não transformar os filmes inspirados na própria vida em espécie de sublimação. “Mas certamente foi o que me ajudou a superar as situações”, reconhece. Para ele, é impossível realizar um documentário sem deixar transparecer seu olhar sobre determinado conteúdo ou realidade. “Não vejo sentido se não for algo pessoal.” O jeito de relatar as histórias chama a atenção. Cristiano começou com uma linguagem mais formalista. “Demorei a esquecer o domínio da linguagem. Quando fui falar do assassinato do meu irmão tomei alguns nortes. Não quis estetizar, não quis colocar a forma acima do conceito e optei por usar uma fotografia crua e por editar as entrevistas.” O resultado tem agradado e, no workshop, ele falará mais sobre suas escolhas estéticas e políticas.

Programação

Amanhã
20h – 'Mataram meu irmão', de Cristiano Burlan (Brasil)

Quinta-feira
15h – Workshop com o diretor Cristiano Burlan.
18h – 'Exibição de Das almas', de Tiago Tambelli e Guilherme Canton (Brasil)
20h – 'Ozualdo Candeias e o cinema', de Eugênio Puppo (Brasil)

Sexta-feira
18h – 'Jango', de Silvio Tendler (Brasil)
20h – 'Mataram meu irmão'

sábado
16h – 'Parque do povo', de Libbie D. Cohn e J. P. Sniadecki (EUA, China)
18h – 'Entusiasmo', de Dziga Vertov (URSS)
20h – 'A máquina que faz tudo sumir', de Tinatin Gurchiani, (Geórgia)

Domingo
16h – 'O almanaque', de José Pedro Charlo (Uruguai)
18h – 'Nosso Nixon', de Penny Lane (EUA)
20h – 'Os guardiões', de Dror Moreh (Israel, França, Alemanha, Bélgica)

É Tudo Verdade
Abertura amanhã, às 20h
Local:Teatro Oi Futuro Klauss Viana (Av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras)
Sessões até domingo
A entrada é franca, mas os convites devem ser retirados uma hora antes
Informações: (31) 3229-3131 ou no site É Tudo Verdade

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