Domingos de Oliveira fala sobre seu novo filme exibido em Gramado

Premiados do festival serão conhecidos neste sábado

por Carolina Braga 17/08/2013 00:13

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Cleiton Thiele/PressPhoto
O diretor Domingos de Oliveira desfilou com Maitê Proença pelas ruas geladas da cidade gaúcha (foto: Cleiton Thiele/PressPhoto )
 

Gramado – “Tenho vários Kikitos espalhados por aí”, lembrou o ator e diretor Domingos de Oliveira, ao subir ao palco para apresentar seu novo filme, Primeiro dia de um ano qualquer, no Festival de Gramado, na noite de quinta-feira. “Um dos prêmios está na cômoda do meu irmão, que não se desfaz dele de jeito nenhum. Tem uma porção por aí”, continua, em tom de deboche.

Mesmo que a brincadeira seja uma marca de Domingos, o cineasta dá o recado naquele que é considerado um dos festivais mais tradicionais do circuito brasileiro: ele parece não estar nem aí para o anúncio dos vencedores desta 41ª edição, hoje à noite. A forma que dá a seus trabalhos também não importa. Oliveira faz filmes por gosto, conteúdo, e assim se mantém fiel ao próprio estilo. Ou seja, o roteiro continua aberto, ele protagoniza e é uma falação sem fim sobre relacionamentos, escolhas e envelhecimento. “No fim das contas é um filme sobre o sentido de viver”, resumiu.

Na intimidade


Primeiro dia de um ano qualquer tem Maitê Proença como a protagonista Consuelo, mulher de muitos amigos, que os reúne para passar o primeiro dia do ano juntos. O longa, inclusive, foi rodado na casa da atriz, na região serrana do Rio de Janeiro. A partir dessa festa, surgem pequenos núcleos e tramas paralelas. Também participam Priscilla Rozenbaum, Alexandre Nero, Sara Antunes, Clarice Falcão, Orã Figueiredo e Guilherme Fiúza, entre outros.

“Nomeados são aproximadamente 20 personagens”, numera Domingos. Trabalhando como ator, Ney Matogrosso protagoniza uma das melhores sequências. Ele faz um músico em crise e que em determinado momento é convidado pelos amigos a cantar Tanto amar, de Chico Buarque, no videokquê da casa. “A tônica era a diversão. Tem que ser bom, e assim, toda a solenidade e a pompa com que se trata o ofício foram embora”, conta Maitê Proença sobre a intimidade demonstrada pelo grupo em cena.

Aos 76 anos e nítidos sinais da idade na fala e na locomoção, Domingos de Oliveira segue sendo um cérebro inquieto. Para ele, a arte tem um valor social que muitas vezes passa despercebido pelos representantes dos governos. “Um bom filme é aquele que ensina a viver. Isso tem uma importância social enorme”, defende.

Com outro trabalho pronto para ser lançado e novo roteiro no prelo para rodar em outubro – esse com Fernanda Montenegro como protagonista –, o diretor e ator segue apostando na sua visão de mundo para contaminar os outros. Domingos de Oliveira vê no cinema a possibilidade de explicar um pouco a vida. No entanto, na opinião dele, a atual produção brasileira passa longe disso.

“Os filmes que fazem sucesso são chatíssimos. Não consigo vê-los até o fim”, reclama. Sempre com bom humor, o diretor lembra o quanto o mundo está necessitado de explicações, já que “ninguém está entendendo mais nada”. Domingos lembra do Cinema Novo, quando foi tachado de alienado. Hoje, o retorno que tem tido dos distribuidores é outro. “A situação piorou tanto que o cinema alienado virou cabeça”, conclui.

Parceria

A coprodução Brasil-Argentina A oeste do fim do mundo despontou como um dos favoritos na disputa do prêmio internacional. O longa dirigido por Paulo Sacramento é uma história sobre dois perdedores, um homem (Cesar Troncoso) e uma mulher (Fernanda Moro), que em determinada circunstância são obrigados a passar alguns dias juntos. Naquele período, se afetam mutuamente.

Rodado no interior da Argentina, o filme tem inicialmente o aspecto inóspito do deserto. À medida que os personagens vão se transformando, os planos e a fotografia também ganham novos matizes. A oeste do fim do mundo foi bastante aplaudido depois da sessão e dificilmente sairá de Gramado sem prêmios. A atuação do uruguaio Cesar Troncoso é digna de um deles.

CURTAS

Apesar de serem competições diferentes, os curtas e os longas são exibidos conjuntamente no Festival de Gramado. Em cada uma das sessões, o curta precede o longa da noite, o que mantém uma dinâmica equilibrada entre os formatos. Na noite de quinta-feira, o ator mineiro Rômulo Braga esteve na tela de Gramado. Ele é o protagonista de Colostro, curta de Caianan Baladez e Fernanda Chicolet.

* A repórter viaja a convite do festival.

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