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Nos anos 1950, ele é um jovem muito rico que não precisa trabalhar e passa seus dias em meio a invencionices futuristas, como o “pianocktail”, engenhoca que, como o nome indica, produz drinques de acordo com as notas musicais tocadas no instrumento. Vive com o amigo/funcionário Nicolas, que cozinha como ninguém pratos como enguias dançantes, ajudado por um rato que vive entre a dupla. A vida de bon vivant muda quando ele se apaixona por Chloé. Pouco após o casamento ela desenvolve uma doença rara: traz uma Flor de Lótus que cresce a olhos vistos em seu pulmão. Colin gasta tudo o que tem para tentar salvá-la. Para tal, começa inclusive a trabalhar.
No elenco, estão três nomes da atual cinematografia francesa que dispensam apresentações: Audrey Tautou, Romain Duris e Omar Sy (o destaque, aqui tão bem quanto no premiado 'Intocáveis'). Os exageros visuais da narrativa de Vian – conhecido pela proximidade com o movimento surrealista – que trazem, além dos elementos já citados, uma limusine transparente, bichos temperamentais, objetos que ganham vida e uma dança (o jazz é a tônica) que simplesmente estica as pernas dos “bailarinos”.
Gondry se apropria de tais elementos – em alguns momentos ele parece ser até mais surreal do que o texto que o inspirou – com tal visceralidade que vemos na tela uma explosão de cores, formas fora do comum. Isso na primeira parte. À medida que o romance ganha contornos doloridos, a cor vai esmaecendo, se aproximando do sépia até o preto e branco. “São as coisas que mudam, não as pessoas.” Tal frase, repetida mais de uma vez na narrativa, é que dá o tom da parte final da história.
É na hora final que ganham destaque assuntos que tiveram em Vian um grande crítico. O escritor tinha uma visão nada positiva da Revolução Industrial e da Igreja. E Gondry obedece o texto original. As fábricas são apresentadas como lugares que acabam com a vida de seus funcionários. E o mercantilismo da Igreja ganha uma cena sem meias palavras. Mesmo sendo a pessoa indicada para refazer na tela grande a narrativa de Vian, Gondry deixa escapar um algo a mais no filme. 'A espuma dos dias' é bonito, não resta dúvida, mas traz em si um vazio que os excessivos elementos visuais não conseguem preencher.
Publicado originalmente em 1947, 'A espuma dos dias' só teve reconhecimento a partir da década de 1960, depois da morte de Boris Vian. Com nova edição da Cosac Naify recém-chegada às livrarias, a obra se tornou um romance de formação obrigatório na literatura francesa. Traz muito da vida do próprio autor. Nascido nos arredores de Paris, Vian sofreu na adolescência de febres reumática e tifoide que lhe deixaram sequelas no coração.
Além de escritor, também foi engenheiro, tradutor e compositor. Identificado com o movimento surrealista e com o anarquismo, foi ainda músico (trompetista de jazz) e se aproximou de Jean-Paul Sartre (que aparece na história, como o personagem Jean-Sol Partre), Simone de Beauvoir e Albert Camus. É autor de 10 romances, 60 contos, três livros de poesia, 10 peças de teatro, 500 canções e seis libretos de óperas. Antes do filme de Gondry, 'A espuma dos dias' teve outra adaptação para o cinema: 'A flor da vida' (1968), dirigido por Charles Belmont.
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