Festival de Gramado mantém as mudanças do ano passado

No evento promovido no Rio Grande do Sul, saem de cena as celebridades e entram os diretores estreantes, animações e documentários

por Carolina Braga 21/07/2013 00:13

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Festival de Gramado/Divulgação
'Revelando Sebastião Salgado', de Betse de Paula, estará na mostra competitiva nacional do 41º Festival de Cinema de Gramado 2013 (foto: Festival de Gramado/Divulgação)

Não foi uma mudança da água para o vinho, mas desde o ano passado o Festival de Gramado, realizado na cidade do interior do Rio Grande do Sul, não é mais o mesmo. Tradição continua sendo o forte do evento. Porém, produções com elenco formado por celebridades badaladas foram radicalmente limadas da programação.


No lugar, entraram jovens realizadores, estreantes em longas-metragens, animações, documentários. Pesquisa de linguagem e narrativa virou a bola da vez. Nada muito ligado ao cinema das grandes massas. A prova de que a estratégia deu certo é que a próxima edição, prevista para 9 a 17 de agosto, reforça a proposta da curadoria formada por José Wilker, Rubens Ewald Filho e o crítico gaúcho Marcos Santuario.

“Nossa preocupação é que a estética narrativa esteja em diálogo com o público, a crítica e também com o festival”, explica Santuario. Segundo ele, uma surpresa geral desta edição é que o número de inscritos aumentou significativamente, o que puxou a qualidade da amostra para cima. Do montante de aproximadamente 100 produções, o trio escolheu oito brasileiras e seis estrangeiras para competição.

Fazem parte do grupo o novo filme de Domingos de Oliveira (Primeiro dia de um ano qualquer) e também a estreia do roteirista de Amarelo manga, Hilton Lacerda, na direção (Tatuagem). Completam a competitiva os longas: A bruta flor do querer (SP), A coleção invisível (BA), Até que a sbórnia nos separe (RS), Éden (RJ), Os amigos (SP) e Revelando Sebastião Salgado (RJ).

“A gente quer realmente dar a oportunidade de observar esse universo que é rico, diverso, mas que não se trata de uma diversidade esquizofrênica. Há um diálogo muito rico”, analisa. Entre os curtas foram selecionados 35 trabalhos, sendo 18 gaúchos e 16 de outros estados brasileiros. De Minas vão Gilberto Scarpa com Merda!, Marcos Pimentel com Sanã e André Novaes e seu já badalado Pouco mais de um mês.

Exibido na última edição do Festival de Cannes, o curta de Novaes foi selecionado por 10 eventos audiovisuais, nacionais e internacionais. “Gramado é um festival que sempre tive vontade de conhecer”, diz. É a mesma expectativa de Gilberto Scarpa. Exibido em Tiradentes, o curta Merda! foi selecionado para a competitiva do festival gaúcho. “É um filme que foi feito para a atuação dos atores. A maior parte do texto é Shakespeare. Quem gosta de ver ator em ação acho que vai gostar muito”, diz o criador.
Flávio Gusmão/Divulgação
O filme 'Tatuagem', de Hilton Lacerda, é outro concorrente nacional do festival (foto: Flávio Gusmão/Divulgação)

 

FLORES RARAS NA ABERTURA

A história de amor entre a poetisa americana Elizabeth Bishop e a brasileira Lota de Macedo Soares filmada por Bruno Barreto em Flores raras será o longa de abertura. Será a estreia no Brasil do filme protagonizado por Glória Pires e a atriz australiana Miranda Otto. A primeira exibição foi durante o Festival de Berlim, em fevereiro.

 

SELEÇÃO DE GRAMADO


Longa-metragem brasileiro
A bruta flor do querer (SP); A coleção invisível (BA); Até que a sbórnia nos separe (RS); Éden (RJ); Os amigos (SP); Primeiro dia de um ano qualquer (RJ); Revelando Sebastião Salgado (RJ); Tatuagem (PE).


Longa-metragem estrangeiro
A oeste do fim do mundo (Argentina e Brasil); Cazando Luciérnagas (Colômbia); El padre de Gardel (Uruguai); Puerta de hierro – El exilio de Perón (Argentina); Repare bem (Portugal); Venimos de muy lejos (Argentina).

 

Edison Vara/Divulgação
(foto: Edison Vara/Divulgação )
Três perguntas para...

Rubens Ewald filho - curador


O que diferencia o Festival de Gramado dos outros eventos audiovisuais realizados no Brasil?
Sua tradição. É o mais antigo e tem uma história muito forte. Sua localização adequada (às vezes, em cidades grandes demais, o evento se perde), ser recanto turístico famoso em todo o país. Claro que os resultados podem ter variado durante as décadas, mas Gramado é o único que virou sinônimo de festival.

O que norteou o olhar da curadoria em 2013?
O mesmo espírito aberto, sem preconceitos, sem pressões externas. Confesso que é muito mais fácil selecionar quando os filmes são fracos do que neste caso. Cada filme me dava um impacto, uma emoção. Por vezes, tinha que parar, dar uma volta, respirar. Se fumasse ou bebesse, essa seria a hora! Isso sucede comigo também quando vejo os filmes do Oscar, até porque é um trabalho solitário, e acho que nunca perfeito. De vez em quando se volta ao DVD ou blu-ray ou se vê de novo um trecho... Ou seja, envolvente e nunca deixando a gente 100% satisfeito.

O que o surpreende no cinema brasileiro que vai ocupar as telas de Gramado?
Estamos crescendo, e o que é bom: pela quantidade chegamos a maior qualidade. Todos são muito brasileiros, em aspectos dessa cultura tão contraditória e mal resolvida como a nossa. Sinceramente, fizemos a primeira colheita, agora cabe ao público e aos críticos realizarem a sua com mais calma e profundidade.

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