É esse o convite da Mostra Internacional Imagem dos Povos, que será realizada em Belo Horizonte de15 a 30 deste mês, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes, e entre 25 e 27 no Memorial Minas Gerais, na Praça da Liberdade. Em sua oitava edição, o evento chama a atenção para a variedade de temas e linguagens que a produção contemporânea audiovisual africana tem alcançado, seja no continente ou nas diásporas ao redor do globo. “É uma viagem que a gente pode fazer na diversidade humana”, comenta o bailarino e coreógrafo Rui Moreira, personagem do documentário 'Fan do Brasil', uma das atrações da mostra.
A programação foi desenhada para borrar – nem que seja um pouco – essa imagem predefinida. Segundo o cineasta, o primeiro passo para isso é a compreensão da diversidade. “É pensar que a África não é somente negra”, ressalta. Assim, ele lembra que o continente tem boa parcela árabe e islâmica. Dele fazem parte tanto os dramas e comédias do cinema egípcio e da região do Magreb, assim como as criações marroquinas e até mesmo a “hollywoodiana” produção da África do Sul.
“Gosto de destacar um aspecto que está presente em boa parte dos filmes: é uma África também com conflitos urbanos, plugada no século 21”, comenta Adyr Assumpção, idealizador e curador do festival. Diferentemente dos últimos anos, quando a escolha da programação era compartilhada, neste ano, o próprio Adyr percorreu mostras audiovisuais fora e dentro do Brasil. Uma delas foi o Festival Pan-africano de Cinema e Televisão de Uagadugu, em Burkina Faso, o mais antigo e considerado um dos mais importantes da região. Foi onde garimpou trabalhos, no mínimo, curiosos.
Novos horizontes Criado em 2004, inicialmente em Ouro Preto, o Imagem dos Povos sempre procurou destacar a produção cinematográfica distante e ainda desconhecida no Brasil. Depois de abordar obras da Nova Zelândia, Índia, China e Japão, Adyr conta que, desde 2009, a aproximação com a África se acentuou. Isso, segundo ele, se deve também ao momento particular do audiovisual africano.
É que muitos profissionais que deixaram seus países para ampliar a formação na Europa não só voltaram a produzir na terra natal como também ampliaram as coproduções. Esse movimento contribuiu com o desenvolvimento do chamado cinema da diáspora, ou seja, dos criadores com raízes africanas espalhados pelo mundo. É aí que entram outras safras mundiais e o maior interesse do Imagem dos Povos.
“O cinema africano não está preocupado em fazer filmes sobre o negro ou o branco. Não tem problema de identidade. O cinema diaspórico brasileiro, caribenho e norte-americano tem a temática do racismo de forma muito mais acentuada”, explica Joel Zito. Além da produção brasileira, o Imagem dos Povos também realiza a primeira retrospectiva em Minas Gerais da obra do haitiano Raoul Peck. “É um cineasta importante nessa questão do olhar para a África. É um momento para ficar conhecendo um pouco mais dessa cultura guerreira”, convida Adyr.
Todas as sessões do Imagem dos Povos têm entrada franca. Para ampliar o alcance, repete em 2013 a experiência com canal para a exibição pela internet dos filmes nacionais que fazem parte da programação. No ano passado, as 20 produções que ficaram disponíveis on-line foram assistidas por espectadores de 193 cidades de 29 países, nos cinco continentes.
Outra atividade paralela à mostra é o 8º Seminário Internacional Imagem dos Povos – Encontros Criativos. Entre os temas estão os editais públicos e a produção artístico-cultural negra, com mediação de Rui Moreira e participação do presidente da Fundação Palmares, Hilton Cobra.
Homenagem a Bulbul
O ator e cineasta Zózimo Bulbul, que morreu em janeiro, será o homenageado desta edição do Imagem dos Povos. Zózimo foi o primeiro ator negro a protagonizar uma novela, 'Vidas em conflito', na TV Excelsior e esteve à frente de papéis de destaque no cinema brasileiro, como em 'Cinco vezes favela' (1962), 'Ganga Zumba' (1963) e 'Terra em transe' (1967). No evento de abertura será exibido o curta-metragem 'Alma no olho', e Rui Moreira apresentará coreografia especialmente criada para a ocasião.
O que ver e por quê
• 'As crianças de Troumaron' (2012, Ilhas Maurício, de Sharvan Anenden, Harrikrisna Anenden)
O longa gira em torno da luta pela sobrevivência de quatro jovens nas Ilhas Maurício. Apesar do cenário turístico do local, a produção destaca questões urbanas muito particulares.
• 'O grito da pomba' (2010, Nigéria, de Sani Elhadj Magori)
É road movie nigeriano que aborda um tema universal: a família.
Cinema da diáspora
• 'Raça '
(2013, Brasil, de Joel Zito Araújo e Megan Mylan)
É documentário feito ao longo de cinco anos e que pretende registrar momento de afirmação da negritude no Brasil.
• 'O início dos sonhos'
(2010, EUA, de Horne Brothers)
Feito nos Estados Unidos, toca diretamente na questão da formação do sentido de identidade no país.
Programação
• Sábado
19h – 'Alma no Olho' ('Soul in the eye'), (1973, Brasil, 11 minutos, de Zózimo Bulbul) e Fan do Brasil (2013, Guadalupe/Brasil, 52 minutos, de Steve James)
• Domingo
14h – 8º Seminário Internacional Imagem dos Povos – Encontros Criativos
17h – 'Vamos fazer um brinde?' (2011, Brasil, 75 min, de Sabrina Rosa e Cavi Borges)
19h – 'Nossa estrangeira' (2011, Burkina Faso, 82 min, de Sarah Bouyain)
21h – 'Koundi e o feriado de quinta-feira' (2012, Camarões, 86 min, de Ariane Astrid Atodji)
• Segunda
17h – 'Nessa rua tem um rio' (2012, Brasil, 38 min, de Alexandre Pimenta e Beatriz Goulart)
19h – 'Alma no olho' e 'Fan do Brasil'
21h – 'Mahaleo' (2005, Madagascar, 102 min, de César Paes e Raymond Rajaonarivelo)
Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes
Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Informações: imagemdospovos.blogspot.com