'Dentro de casa' tem trama divertida sobre jovem que escreve mesclando realidade e fantasia

O ator Ernst Umhauer é Claude, jovem incentivado a escrever no filme de Francois Ozon

por Walter Sebastião 26/04/2013 08:00

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Mandarin Films/Divulgação
(foto: Mandarin Films/Divulgação)

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'Dentro de casa' (2012), de François Ozon, é filme sobre muitas coisas, mas, pode-se dizer que é especialmente sobre a escrita, o desejo e o cinema. Claude (Ernest Umhauer), de 16 anos, toma o colega Rapha (Bastien Ughetto) e a família dele como inspiração para um texto da escola.

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E, conseguindo ter acesso à casa deles, fica atraído pela mãe do amigo. Germain (Fabrici Luchini), professor de literatura de Cláude, vê nele um talento literário e o estimula a continuar o que escreveu. Mas as coisas se complicam quando o adolescente inclui, na história, também o professor e a mulher dele, Jeanne (Kristin Scott Thomas), uma galerista. O filme esteve no Festival de Cinema de Londres e ganhou o prêmio de Melhor Filme no de San Sebástian (Espanha).

É obra simpática, divertida, sofisticada mesmo. Que faz sonhar com algo raro: cinema inteligente para jovens cinéfilos, tematizando a literatura e não dirigido só a eles.

'Dentro de casa' tem duas partes. A primeira vai do início do filme até quando Claude começa a invadir a vida do professor que o orienta. Essa metade o filme é uma delícia. Primeiro, porque o jovem candidato a escritor coloca sua “musa” em contexto amplo: ela é, como ele diz, uma mulher de classe média, de família normal. Depois, pelo modo como Claude descreve hábitos e a família do colega. Situação ainda mais divertida é o fato de os textos de Claude serem lidos e comentados pelo professor e a esposa, fazendo o espectador saborear discrepâncias entre escrita, leitura, imagens e sentimentos que o texto desperta.

A segunda parte do filme não perde a discreta elegância francesa, mas, aos poucos, impõe controle à situação que, solta, é mais engraçada. Situação posta na tela por meio de palpites do professor sobre os rumos da história que está sendo escrita pelo protegido. O que leva a estratégias cinematográficas gastas. A mais evidente é a delimitação, às vezes de forma grosseira, do que é ficção e do que realidade. O que soa, não só como enquadramento, como traz encenações óbvias. Que contrastam com a primeira parte do filme, que flui, de forma clara, agradável, sem opor o visto e o imaginado, para lembrar feliz expressão do poeta Affonso Ávila. E o que é narrativa dúbia, maliciosa, vira trama em busca de fim positivo, ferindo espírito zombeteiro do início da aventura.

Pode-se encontrar muitas justificativas para o “cuidado”, gritante, de indicar o que é ficção e o que é realidade, mas todas discutíveis. Tática que, inclusive, abre porta para que vários clichês entrem em cena. Vale lembrar, aqui, que dois mestres do cinema moderno, cujas obras são fundamentos da linguagem cinematográfica, com estéticas diferentes – o surrealista Luiz Bunuel e o cubista Alain Resnais –, ensinam, sabiamente, a não ficar antagonizando o “real” e o “irreal”. E o resultado dessa mirada, em ambos os casos, foi a criação de visões enriquecidas do imaginário, do real e das artimanhas do mundo psíquico. Dá para ir, com prazer, até o fim de 'Dentro de casa', mas sem a expectativa de surpresas postas no início do filme.

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