Convencionalismo de abordagem e linguagem prejudicam 'Hitchcock'

por Walter Sebastião 01/03/2013 09:00

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Fox/Divulgação
O ponto forte de Hitchcock, do diretor Sacha Gervaise, é o ator Anthony Hopkins (foto) (foto: Fox/Divulgação)
'Hitchcock' coloca na tela personalidade singular, em momento em que o cineasta está no auge da carreira e fazendo uma de suas obras-primas: 'Psicose' (1960). Filme que se hoje é um dos clássicos do cinema, foi projeto independente, financiado pelo diretor, que não conseguiu apoio dos estúdios para trama considerada sanguinolenta e imprópria. Ambientado nos bastidores do clássico, o novo longa tem trama sobre temas variados. É retrato do artista às voltas com os mistérios da criação de uma obra. É também a história de um cineasta em luta com engrenagens da indústria cinematográfica. E especialmente uma história de amor entre Hitchcock e a mulher dele, Alma Reville, parceira artística da vida inteira.

Para financiar 'Psicose', Hitchcock (Anthony Hopkins) teve que hipotecar a residência do casal. E o fez com aprovação de Alma Reville (Helen Mirren). Mas ela estava cansada dos romances fantasiosos do marido com as louras que estrelavam os filmes dele. E ameaçou dar o troco. Situação que permitiu ao diretor Sacha Gervaise colocar aspectos da obra de Hitchcock que sempre intrigaram: vouyeurismo, fetichismo, crueldades. O prazer de assustar o espectador é apenas pequeno emblema, num contexto em que erotismo e morbidez andam juntos. Diálogos preciosos mostram Hitchcock exercitando, sem piedade, seu humor negro, o sarcasmo e o gosto pela provocação.

O aspecto mais forte do filme tem nome e sobrenome: Anthony Hopkins. O ator está em ótimo momento, em obra escrita para ele. Todo o elenco está bem, mas o filme deixa a sensação de trabalho solo de Hopkins. Personagens interessantes, contexto idem, mas a serviço de produção que carrega clichês de artistas em geral e de Hitchcock em particular. Ele é mostrado como o gênio atormentado por seus fantasmas, em luta contra as estruturas opressivas, para conseguir se expressar artisticamente e que, depois de muito sofrimento (de fato algumas contrariedades e muitas censuras), termina vitorioso. Saga de “herói” das artes, contada com imagens, música e narrativa igualmente convencionais.

O convencionalismo de abordagem e linguagem se evidencia como contra-senso num filme em que o personagem central defende rebeldia contra as convenções, elementos originais nas tramas, inventividade que surpreenda o espectador. E ele está certo.

'Hitchcock', apesar das limitações, é um filme agradável, que assistido com curiosidade. Afinal, ele foi um diretor que sempre esbanjou charme (basta recordar a graça da presença dele nos filmes), além de ser um narrador virtuoso e cineasta que investigou o que chamava de o lado obscuro do ser humano com estética refinada e irônica. O filme foi inspirado no livro 'Hitchcock and the making of Psycho', de Stephen Rebello.

Confira o traider de 'Hitchcock':


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