Prêmio de melhor ator para não-profissional marca encerramento da Berlinale

Festival de Berlim deu os principais troféus à veterana chilena protagonista de 'Gloria' e ao catador de ferro que atua em documentário sobre a própria história

por Agência Estado 18/02/2013 11:38

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AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL
O trabalhador Nazif Mujic recebeu o Urso de Prata de Melhor Ator por sua participação em 'An episode in the life of an iron picker' ('Um episódio na vida de um catador de ferro') (foto: AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL)
Houve um consenso da crítica de que este não foi um grande Festival de Berlim. Os bons e até grandes filmes tiveram seu contraponto em alguns ruins e outros tantos medianos - não há nada pior do que uma seleção medíocre, daquelas que dão a impressão de ter medo de errar (e erram). Mas, de maneira geral, o júri presidido por Wong Kar-wai acertou. Pode ter errado ao ignorar o russo Boris Khlebnikov, de 'A long and happy life', ou ao atribuir o importante prêmio de direção a um filme tão insignificante quanto 'Prince Avalanche', de David Gordon Green.

As demais impressões, ou reclamações, com certeza baseiam-se em impressões subjetivas - mas foram compartilhadas pela maioria dos jornalistas, um tanto perplexos, após a cerimônia de premiação no sábado à noite. A maioria esperava o Urso de Ouro para o chileno 'Gloria', de Sebastián Lelio, mas o melhor filme, segundo o júri, foi o romeno 'Child’s pose', de Calin Peter Netzer, também eleito pela crítica. A chilena Paulina Garcia foi a melhor atriz, por 'Gloria', e esse foi um dos prêmios em que o júri atingiu a unanimidade, sem que possa ser acusado de burrice (como diria Nelson Rodrigues).

Paulina não reclamou de ninguém e o próprio Lelio, por mais que esperasse o grande prêmio, fez saber que se sentia recompensado por meio de sua extraordinária atriz. A escolha do melhor ator foi honrosa, mas não deixa de colocar um problema. Nazif Mujic não é um ator profissional e reconstitui diante da câmera, em 'An episode in the life of an iron piker', o que ocorreu com sua mulher e ele na vida real. O júri atribui dois prêmios ao belo filme de Danis Tanovic - além do de melhor ator, justamente seu prêmio especial (o do júri).

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Paulina Garcia recebeu o prêmio de Melhor Atriz pela protagonista do chileno 'Gloria' (foto: AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL)
A questão que permanece em aberto é: até que ponto é lícito premiar um não ator, num docudrama? É muito possível que tenha sido um prêmio conceitual. O júri poderia ter escolhido entre outras atrizes, porque o Festival de Berlim de 2013 teve muitas mulheres fortes, tanto as personagens como suas intérpretes. Já os homens, em sua maioria, foram fracos e isso, de alguma forma, se refletiu na qualidade das interpretações masculinas. Ao escolher um dos raros homens íntegros e fortes da Berlinale - e um que interpretava o próprio papel -, o júri com certeza quis passar um recado.

Danis Tanovic e a produtora de 'Child’s pose' fizeram, de qualquer maneira, os discursos mais belos da noite. O filme de Tanovic é sobre o esforço desse homem, um cigano, para salvar a vida da mulher. Ela abortou e precisa com urgência de uma curetagem para evitar a septicemia, mas Zanif, que vive de catar ferro, não tem dinheiro nem seguro social. Inicia-se uma verdadeira via-crúcis, rigorosamente real, para o casal. A maneira como eles resolvem o problema é engenhosa e deixa aberta outra questão - se o sistema é discriminador e cruel, como cobrar ética das pessoas? Quando o filme chegar ao Brasil, o público nacional poderá descobrir o que Nazif e a mulher fazem para driblar o poder e seus representantes.

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Diretor romeno Calin Peter Netzer levou o Urso de Ouro de Melhor Filme por 'Child's pose' (foto: AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL)
 

 

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