Doses de humor azedo fazem de 'O voo' uma tendência de momento

Denzel Washington não salva filme feito sob medida para ele

por Walter Sebastião 08/02/2013 07:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Paramount Pictures/Divulgação
(foto: Paramount Pictures/Divulgação)
Whip (Denzel Washington) é um piloto que se torna celebridade pelo fato de, com manobra ousada, salvar um avião da queda. Só que ele estava trabalhando sob efeito de álcool e cocaína. É essa situação que o filme O voo, de Robert Zemeckis, coloca na tela. Com luz melancólica, galerias de personagens cansados, viciados pobres e doses de humor azedo e algo cínico. É filme que acompanha “tendências” do momento da indústria cinematográfica: mais de duas horas de duração, história “complexa” e que apresenta “diversos” pontos de vista; flerte com estratégias narrativas que jogam com a construção e a desconstrução de gêneros, neste caso, inserindo alguma dubiedade em tramas estandartizadas

Como o espectador desde a primeira cena já sabe que Whip está pilotando turbinado (isto é, antes de a questão ser revelada pelas investigações do acidente), acompanha junto com o arrogante piloto todos os dramas dele e o labirinto de problemas em ele que se enreda. Essa estrutura dramatúrgica explorada com habilidade, até constrói atmosfera envolvente, mas, em momentos críticos, derrapa. E impõe à história “coincidências” insustentáveis. O mesmo ocorre com a trilha sonora, repleta de preciosidades (Joe Cocker, Red Hot Chili Peppers, Cowboy Junkies, Stones, John Lee Hooker, Marvin Gaye, The Jeff Beck Group), mas que, com poucas exceções, soam desajustadas ao contexto em que se inserem.

saiba mais

Denzel Washington continua sendo um dos bonitões do cinema norte-americano, mas tem atuação modesta em filme escrito sobre medida para ele. O que acaba levando o elenco a interpretações no máximo corretas. Um ou outro personagem secundário tem alguma graça (como o traficante vivido por John Goodman). Que ninguém se iluda: o tema contemporâneo (a preocupação universal com falhas e desastres de aviões) não impede que O voo seja o mesmo e convencional filme de herói já visto dezenas de vezes na tela. Como o conteúdo no filme é mais interessante que a forma, merece elogio a reverência aos Alcóolicos Anônimos, sabidamente consideração lúcida em meio a mundo e contexto em que soluções milagrosas são apresentadas como redenção.

Até dá para curtir O voo, apesar dos mergulhos do filme nos céus turvos e discutíveis das boas intenções (de bem-intencionados, como se sabe, um certo lugar está cheio). Curioso é o entorno da trama, do personagem e da história. Estão no filme os bastidores do lugar onde se confeccionam explicações para os desastres aéreos. Vê-se o jogo de empurra entre empresas, governos, órgãos controladores, sindicatos etc., todos procurando o ou os responsáveis pelo ocorrido, que, como observam, têm de achados a qualquer custo. Mais surpreendente ainda é ver em cena tema recorrente dos noticiários sobre acidentes (nunca satisfatoriamente esclarecidos), como aquelas discussões sobre falhas humanas e mecânicas, problemas provocados por extensas jornadas de trabalho dos pilotos e também por falhas e falta de manutenção dos equipamentos.

Confira o trailer:




MAIS SOBRE CINEMA