'Os miseráveis' dá ao musical um tom de ópera

Filme é protagonizado por Hugh Jackman e Anne Hathaway

por Walter Sebastião 01/02/2013 08:00

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Working Title Films/divulgação
Jean Valjean (Hugh Jackman) tenta amparar Fantine (Anne Hathaway), que é forçada a se prostituir para sobreviver (foto: Working Title Films/divulgação)
Pode-se dizer que Os miseráveis, de Tom Hooper, é a tradução cinematográfica de um musical de teatro, e não só uma adaptação. Para tanto, o diretor vale-se de todo apuro que o audiovisual oferece hoje para criar um trabalho em que as canções estão em todo o filme, da primeira à última cena (e não apenas intercaladas entre falas). O resultado até gera alguma estranheza, mas, passada a surpresa, o que se vê é um longa envolvente, que busca a emoção sem medo de ser grandiloquente. Este último aspecto, por ser explícito, não incomoda. E traz um pouco do romantismo de Victor Hugo (1802-1885), escritor “que fala, canta e respira com letras maiúsculas”, como observou o poeta Murilo Mendes.


Os miseráveis é ambientado no século 19, na França. Começa com a saída da prisão de Jean Valjean (Hugh Jackman), que, por pequeno roubo, é condenado a 19 anos de cárcere. Ao sair da cadeia, viola sua condicional, foge e se torna dono de uma fábrica. O que não o livra da perseguição implacável, durante décadas, do policial Javier (Russel Crowe). A vida de Valjean muda completamente depois dele decidir amparar a filha de uma das funcionárias, Fantine (Anne Hathaway), forçada a se prostituir para sobreviver. É história rica de situações, temas e personagens, feita para comover e com a intenção de fazer crítica social. Que fez e continua fazendo sucesso, como mostram as dezenas de adaptações cinematográficas do romance.

Movendo a sedução que o filme exerce está a montagem ágil, harmônica, que trabalha articulando, com precisão, desde planos gerais de cenas espetaculares, que prendem a atenção pela grandiosidade, até closes valorizando momentos intimistas, expressivos. A boa fotografia, roteiro seguro e a correta interpretação dos atores constróem base sólida, para que a comunicação com o espectador seja intensa. Um aspecto que dá charme especial ao filme: os próprios atores cantam (e as gravações foram feitas durante as filmagens). Recurso que não só traz calor, mas faz com que as atuações sejam momento especial, forte, do elenco.

Os miseráveis tem narrativa direta e linguagem cinematográfica tradicional. Não tem a intenção de modernizar clássicos. Tal postura, aliada ao forte apelo ao emocional, faz com que o espectador se concentre na trama e nos muitos temas que ela coloca. Pode-se até cobrar mais arrojo, especialmente quando se recorda que o acervo de filmes musicais tem obras preciosas e ambiciosas. Os miseráveis é mais um investimento no sonho de diferentes gerações de cineastas: o cinema tornando-se ópera popular.

Veja o trailer de Os miseráveis:


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