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A premiação da artista que coleciona papeis em produções independentes casa com a escolha do filme que abriu a mostra. ‘Onde Borges tudo vê’, do paraibano Taciano Valério, é exemplo de uma forte corrente da produção contemporânea no Brasil, que se enraíza em tons regionais para valorizar histórias que criem empatia e provoquem reações cruas. “O grande público tem dificuldade de entender o olhar do outro porque nós não mostramos”, justifica o diretor.
Valério está entre os autores que fazem do cinema um veículo de expressão livre. Dentro desta corrente, há filmes que não dependem necessariamente de compreensão imediata do público final. A produção de obras que despertem reações sem passar pelo formato tradicional dos filmes comerciais é o tema desta edição da Mostra de Tiradentes, que sintetiza a discussão sob a temática ‘fora de centro’. “A grande questão hoje não é mais a câmera, mas a ideia”, raciona Taciano.
Palco de pré-estreias e lançamentos de produtos independentes, o festival de Tiradentes transformou-se em espaço de conforto para os diretores que trabalham com experimentação. Raquel Hallack, coordenadora do evento, se orgulha de que as tendências na criação cinematográfica do país se concentrem na cidade do Campo das Vertentes a cada edição. “Aqui é o espaço para a expressão da cultura e do pensamento jovem, marca da produção atual no Brasil”, ela destaca.
Até o próximo dia 26, 34 longa-metragens e 97 curtas serão exibidos gratuitamente em espaços públicos de Tiradentes. A 16ª mostra integra o projeto Cinema sem fronteiras, que também promove o festival Cine OP, entre 12 e 17 de junho em Ouro Preto, e a Mostra Cine BH, de 10 a 17 de outubro.
Atriz homenageada
O caminho da paranaense Simone Spoladore até o cinema foi de experimentação. Ela chegou à linguagem após se consolidar como atriz nos palcos de Curitiba, sem jamais ter passado pela formalidade dos cursos de graduação em teatro. Durante sua formação prática, cada papel era tomado como um desafio. “A atuação me possibilita a experiência de entrar em contato com as coisas, poder me surpreender, aprender e ampliar minha consciência”, ressalta a artista. O primeiro flerte com a tela grande resultou na passionalidade de Ana, seu papel de estreia em ‘Lavoura arcaica’ (2001).
Grande homenageada da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, Spoladore se declara admiradora dos diretores que mergulham na experimentação e se arriscam em novas formas de contar histórias. Lúcia Murat, que a dirigiu em ‘A memória que me contam’ (2012) e Gustavo Galvão, condutor de ‘Nove Crônicas para Um Coração aos Berros’ (2012), entregaram o Troféu Barroco à homenageada.
Ao falar sobre o número do músico Sérgio Pererê, que abriu e encerrou a cerimônia ao som de forte percussão e entonações de congado, Simone resgatou sua ligação com Minas Gerais. “O primeiro filme que eu fiz foi gravado aqui em Minas, eu já dancei tanto nesse estado”, recordou, referindo-se à sequência em que Ana dança ao som de tambores em ‘Lavoura arcaica’.
Dez anos depois da primeira participação no festival, com o filme de Luiz Fernando de Carvalho em que estreou, o retorno de Simone Spoladore como premiada pela carreira cinematográfica demonstra a força dos papeis que escolheu e eternizou em mais de 20 produções.
Em seu agradecimento pela distinção, ela desejou ter ainda muito fôlego para se envolver em novos projetos. “Espero que não morra cedo”, enfatizou a atriz, ambicionando novidades para manter-se “trabalhando em coletivo e compartilhando emoções e experiências”.