Fechamento da locadora Videomania encerra ciclo na forma de se assistir a filmes em BH

Acervo de 18 mil títulos, entre vídeos e DVDs, já está à venda

por Jefferson da Fonseca Coutinho 14/01/2013 09:52

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Leandro Couri/EM
Gery e Alba Weinberg em frente à locadora em Lourdes: a pirataria e a tecnologia mataram o negócio que marcou época em BH (foto: Leandro Couri/EM )
No dia 19, cerca de 30 mil associados, amantes da sétima arte, vão ter que sair em busca de bons filmes por outras bandas. A Videomania, primeira locadora de Belo Horizonte, com os dias contados desde o boom da pirataria, vai mesmo baixar as portas depois de quase 30 anos de funcionamento. Não bastassem as benesses (?) da era digital, com o fácil acesso aos títulos mais raros, veio a supervalorização do imóvel de 500 metros quadrados na Rua Curitiba, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Desde novembro, parte do acervo de 18 mil fitas está à venda. Na última semana, até os lançamentos serão disponibilizados. Dos 6 mil longas de arte, mais de 80% já foi liquidado. “Para acabar. Aproveitem!”, diz a faixa entre as colunas acinzentadas da varanda.

O público só tem a lamentar. Para a aposentada Rosângela Alves de Oliveira, Belo Horizonte vai confirmando sua vocação para a falta de atenção com os espaços diferenciados. “É muito triste que esse tipo de comércio não consiga sobreviver. Tudo em relação ao bom cinema na cidade me parece bastante frágil. BH está ficando mais pobre e o que nos resta são os cinemas de shopping”, lamenta. Rosângela coordena projeto de filosofia e cinema que reúne professores e profissionais de psicologia de Belo Horizonte. “É com muita tristeza que recebo a notícia. Quando soube, vim correndo para tentar comprar alguns filmes”, diz.

O empresário Antônio Chamone, de 60, lamenta a sorte da região neste janeiro. “Lourdes está caracterizado pela sua gente bonita, por ótimos restaurantes e muita alegria. Em 2013, o bairro amanheceu triste porque a locadora do Gery vai fechar”, diz. No balcão, abatendo o desmanche, Gery Weinberg, de 65, ainda não quer falar em futuro. Depois dos tempos áureos, com até 3 mil locações para um fim de semana prolongado, nos anos 1980, o engenheiro e administrador diz que vai entregar o imóvel no dia 31, assentar as ideias e ver que novo rumo dar à vida.

Gery se mostra tocado pela solidariedade dos amigos e desconhecidos nos últimos dias. “A reação de um modo geral é de pesar. Pesar e, também, de agradecimento pela nossa contribuição com a arte”. O rapaz de pouca barba, de saída, com sacola de filmes nas mãos, se despede: “É uma pena. Foi a melhor locadora da cidade”. Ana Paula Ferreira, professora, associada há 15 anos, diz entender a tendência. “É irreversível. Não sei onde isso vai parar por causa de normas e regulamentação. Adaptei-me à internet, baixando filmes, mas ainda passava horas aqui em busca do filme perfeito”, revela.

Em aviso prévio, o jovem gerente Vinícius Correia, de 25, é outro sem rumo. Mais que o salário, o estudante de cinema perdeu sua maior fonte de pesquisa. “Estou triste. Todo mundo tinha um acervo incrível à disposição e, agora, vamos ficar órfãos”. A senhora de timbre forte, na entrada, faz coro: “Puxa vida! Fiquei muito chateada com a notícia . Fiquei arrasada”. Outros sujeitos, atraídos pelas faixas na Rua Curitiba, 2.081, percorrem as prateleiras em busca de oportunidades. Henrique, de 32, vindo do Bairro Santo Antônio, acha o preço fora da realidade. Comenta com a namorada: “R$ 40 é muito caro. Tá doida?”

Os preços variam e podem chegar a R$ 49,90. As fitas VHS são oferecidas a partir de R$ 1. Alba Weinberg, de 60, mulher de Gery, suspira: “Foi bom enquanto durou”. Conta que a locadora só sobreviveu os dois últimos anos por amor à arte. Orgulha-se dos tempos de fila e da segunda loja no Shopping 5ª Avenida, na Savassi. Para a empresária, a “tecnologia foi bastante ingrata com as locadoras de filmes”. Gery, vencido, entende que a fusão TV/internet é “caminho sem volta”. Especialista, prevê que, “mais cedo ou mais tarde, o consumidor vai acabar tendo que pagar por conteúdo”.

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