Jack Reacher: O último tiro é frustrante como filme de ação

Nova empreitada de Tom Cruise convida espectador ao voyeurismo, mas perde foco com final previsível

por Walter Sebastião 11/01/2013 07:00

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Paramount/Divulgação
O galã Tom Cruise interpreta um tipo comum, misto de detetive e justiceiro (foto: Paramount/Divulgação)
Um homem preso por matar a tiros, aleatoriamente, cinco pessoas, na hora de assinar a confissão rabisca no papel um pedido: “Tragam Jack Reacher”. O nome misterioso é o de um colega, também veterano de guerra, que se tornou andarilho. Ele é um tipo comum e algo violento, misto de detetive e justiceiro. A advogada (Rosamund Pike) encarregada da defesa do criminoso precisa que Jack (Tom Cruise) investigue o ocorrido. O casal, ao se aprofundar na apuração, vê o caso tomar rumo inesperado. Tudo ocorre em meio ao ambiente urbano, ação, romantismo seco e algum suspense. 

Jack Reacher: O último tiro até começa bem, brincando, com alguma perversidade, com o vouyerismo do espectador e desenvolvendo trama que, em vários momentos, mostra que as aparências enganam. Mas o que gera empatia na primeira metade do filme desaparece na segunda. E a promessa de filme de ação com alguma dubiedade e sofisticação não se cumpre. A história marcha em linha reta, sem nuances, para o fim do qual já se suspeita com antecedência. E carrega para esse caminho todos os elementos do filme. O resultado é produção burocrática, só que bem realizada tecnicamente. Nada mais.

Os tipos até interessantes, apresentados no início do filme, não têm boas interpretações (o roteiro é modesto e afasta qualquer aventura narrativa). Tornam-se apenas inventário de gente fazendo cara de mau (entre os atores está o diretor alemão Werner Herzog). Música, fotografia e direção de arte forçam “clima” noir e ares de drama. Mas tudo acaba soando apenas como insistência, algo sem sentido que apenas impõe seriedade ao que é pura fantasia, reprimindo o cômico e o risível, diante do mirabolante e improvável tempero divertido dos filmes de ação.

Surpreendem o excesso de drama e a falta de humor, até porque o filme tem todos os clichês que fazem a graça das fitas de ação: corridas de automóveis loucas pela cidade; herói vencendo um monte de adversários sem atrapalhar o cabelo; tiros em condições inacreditáveis, que chegam certinho ao alvo. Jack Reacher é daqueles sujeitos que bate o olho, faz cara de pensador e advinha tudo – na certa e de primeira. A única explicação para a cara emburrada, que inibe o riso, talvez seja pudor no trato com assuntos que perturbam a sociedade norte-americana (em especial atiradores malucos disparando contra a população).

Jack Reacher: O último tiro tem direção de Christofer McQarrie. É inspirado no livro Alerta final, de Lee Child, autor que tem 17 obras com Jack Reacher. O escritor, em entrevista à revista January, falando sobre o personagem, contou que queria criar um sujeito decente e sem complicações, que tivesse  defeitos, “mas sem muita consciência deles”, para não ficar sempre olhando para o próprio umbigo. “Jack se acha completamente normal. Nós, leitores, é que sabemos que ele é diferente”, observou. Ele se identifica com o personagem: “Eu era um cara duro em um bairro violento”, recordou. Grandalhão, ele foi na escola primária guarda-costas de colegas e era pago com biscoitos e dinheiro. “Fiz estragos nos valentões”, garantiu.
 
Assista ao trailer de Jack Reacher - O último tiro:
 



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