Sai em DVD o clássico John & Mary, de Peter Yates

Longa protagonizado por Dustin Hoffman e Mia Farrow retratou a revolução comportamental dos anos 60

por Agência Estado 07/01/2013 16:22

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Reprodução / Lume Filmes
(foto: Reprodução / Lume Filmes)
Existem autores que não cessam de clamar por reconhecimento. O inglês Peter Yates, que morreu há exatamente um ano (em 9 de janeiro de 2011), é um deles. Rubens Ewald Filho chega a duvidar no Dicionário de Cineastas, que o mesmo homem que fez Bullitt com Steve McQueen, tenha trabalhado no teatro com textos de Edward Albee. Não é o único a desconfiar de que não se possa aplicar a Yates o rótulo de 'autor'. Mas ele foi, e grande. Só foi sempre difícil de enquadrar.

Logo depois de mostrar McQueen naquela louca corrida pelas ruas de São Francisco - Bullitt estabeleceu um paradigma nas cenas de perseguições que todo diretor de ação se esmera em tentar superar -, o que fez o cineasta? Trancou-se num apartamento e fez John & Mary em apenas um cenário, com dois personagens.
Dustin Hoffman e Mia Farrow formam o casal que parte do relacionamento de uma noite para alguma coisa mais duradoura. Começam fazendo sexo e terminam apresentando-se - 'Eu sou John', 'Eu sou Mary'. No intervalo, e são cerca de 90 minutos - a duração total é de 92 min -, falam compulsivamente. O francês François Truffaut definia o amor como oposição entre gesto impulsivo e palavra consciente. Hoffman e Mia, passada a satisfação que o impulso proporciona, tateiam com as palavras, em busca de entendimento.

Filmes como Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor, repetiram, mais tarde a mesma ideia ou conceito. Paulo César Pereio e Sônia Braga também partem da ligação de uma noite, mas Jabor nem precisa negar que viu John & Mary. O filme dele é sobre dois personagens maduros, com histórias de vida - e frustrações amorosas - por trás deles. O de Yates é sobre uma dupla que se inicia nas artimanhas do sexo. E nisso vai toda uma diferença.

O espectador que hoje assiste a John & Mary não faz ideia do que era um filme desses em 1969. Ao longo de toda a década - os transformadores anos 1960 -, o cinema, e Hollywood, haviam passado por uma verdadeira revolução comportamental. Ela foi anunciada pelos filmes da nouvelle vague francesa, por Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg que, em Acossado, À Bout de Souffle, de Jean-Luc Godard, faziam sexo e conversavam, e depois faziam sexo de novo e conversavam mais.

Na sequência vieram a pílula e a minissaia, e o cinema e os comportamentos mudaram de vez. Até Hollywood arquivou o obsoleto Código Hays, que disciplinava o uso do sexo e da violência na tela.

No começo de fevereiro, quando estrear Psicose, sobre o processo de realização da obra cult de Alfred Hitchcock, você vai ver como as coisas funcionavam no cinema norte-americano. Há toda uma negociação do mestre do suspense com a censura porque ele precisava mostrar um vaso sanitário, e isso era tão proibido em Hollywood quanto filmar um casal na cama. Psicose, o original de Hitchcock, é de 1960. John & Mary é de nove anos depois.

Na França, Alain Resnais já fizera Hiroshima, Meu Amor, sobre outro casal (Eiji Okada e Emmanuelle Riva), que faz sexo e conversa durante uma noite inteira e só se apresenta na manhã seguinte - no fim do filme. E houve também A Primeira Noite de Um Homem, de Mike Nichols, com Dustin Hoffman como Benjamin Braddock, que deu voz a toda uma geração de jovens dos EUA.

JOHN & MARY


Ano: 1969

Direção: Peter Yates.

Distribuição: Lume Filmes (R$ 39)

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