Daniel Craig mostra um James Bond mais humanizado em 007 - Operação Skyfall

Há 50 anos, James Bond tem licença para matar na mais longa série cinematográfica de todos os tempos

por Carolina Braga 26/10/2012 07:00

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Columbia Pictures/Divulgação
(foto: Columbia Pictures/Divulgação)
 

 

Personagens ícones como James Bond costumam ser fonte de polêmica. As discussões em torno dele podem ser tão acaloradas quanto um bate-papo sobre futebol. Quem é o melhor 007? O vilão que mais se destacou? A bond girl mais cobiçada? Enfim, cada fã tem o próprio arsenal de argumentos para defender suas escolhas. 007 – Operação Skyfall, com direção de Sam Mendes, estreia nesta sexta-feira em 23 salas de Belo Horizonte. Eis mais um inusitado repertório de cenas para incrementar a lista dos bondmaníacos. Veja mais fotos do filme Confira os horários das sessões

 

É curioso: na medida em que a série avança cinéfilos do mundo todo vão formando uma espécie de cardápio cinematográfico comentado. São 50 anos de perseguições, de aventuras, de tiros, de conquistas amorosas, de engenhocas eletrônicas, sem dizer nas atuações memoráveis. Como cada um tem as suas passagens prediletas. É assim que se cria uma espécie de altar em torno do agente secreto com licença para matar.

 

Pela terceira vez no posto, Daniel Craig é até bem cotado no ranking dos intérpretes. O problema é que bater Sean Connery é tarefa árdua demais na história de James Bond. Ele estreou no papel em 1962, em 007 contra o satânico dr. No. “A franquia foi meio vítima do sucesso do primeiro, com Sean Connery. Criou-se um padrão”, comenta o advogado Gerardo Figueiredo. Espectador atento à evolução do personagem, para ele, a humanização do espião é a característica da fase atual. “Ele se expõe ao risco e sofre as consequências disso”, completa.

 

Convidado a destacar aspectos que marcaram as tramas de 007, o publicitário e roteirista Carlos Henrique de Campos concorda que, no que se refere ao protagonista, não tem discussão: Sean Connery está no topo da lista. “O 007 pronto ainda é o Sean”, garante. Por outro lado, no hall dos vilões, estrelinha para o Goldfinger de Gert Fröbe. E a bond girl? Daniela Bianchi, de Moscou contra 007 (1963). “É uma senhora que deve ter hoje seus 80 anos e se ela passar na minha frente ainda dou uma assobiada”, brinca. LONGEVIDADE James Bond é a mais longa série cinematográfica de todos os tempos. Não se pode negar que ao longo dos 50 anos a mudança dos intérpretes foi uma tacada de mestre para a longevidade. “Por mais que se lembre de Sean Connery, passou a ser parte da história dos filmes o fato de que em algum momento os protagonistas mudam”, comenta Gerardo. “É um produto que vende bilhões de dólares e tem que ir se adequando ao gosto para vender mais”, completa Carlos. Em outras palavras, 007 sobrevive por que é uma série que se adaptou às mudanças da sociedade.

 

Operação Skyfall dá várias provas disso. Se o terrorismo é uma questão que assola o mundo, lá está o tema no filme. Se as mulheres a cada dia assumem mais cargos de poder, M (Judi Dench) demonstra seu pulso firme. Se a tecnologia é uma realidade na vida das pessoas, Q (Ben Whishaw) volta à trama repaginado na pele de um nerd. É assim que Bond caminha. É assim que Bond está apto para o encontro com novos públicos. * Viajou a convite da produção do filme

 

Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press
Fã do agente secreto, Carlos Henrique de Campos tem coleção completa dos filmes de 007 (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D. A Press)
 

 

Intrépido, incansável e invencível

 

Talvez como reflexo da sociedade, traumas do passado e medos do presente têm se tornado importante combustível para as tramas contemporâneas. As camadas psicológicas escondidas atrás da bravura, vêm revelando heróis mais humanos nas ficções do século 21. Ainda bem. Assim como foi ótimo ver que Batman também se deprime e o Homem-aranha é adolescente impulsivo, chegou a vez de James Bond mostrar que não é tão invencível como gostaria, ou melhor, parecia.

 

Como qualquer mortal, ele erra, ama, machuca, ganha, perde, envelhece, cai, levanta, enfim, vive e sente. Seguindo o exemplo de Christopher Nolan (Batman), o diretor Sam Mendes fez muito boa escolha ao apostar na humanização de 007. Essa opção, na verdade, já dava sinais de surgir desde que o herói sucumbiu ao amor em Cassino Royale (2008). Dali em diante, o aspecto humano de Bond cresceu com Daniel Craig no papel do protagonista. Operação Skyfall faz com que essa característica alcance níveis mais expressivos.

 

Mantendo fidelidade a seu rasgo de personalidade, James Bond continua um perseguidor intrépido e incansável. No que tange aos encontros amorosos, amanhecerá bem acompanhado e até invadirá banhos de outrem. Mas, definitivamente, romance não é a bola da vez. Fica até difícil apontar quem é a bond girl do momento. Eis que o bonitão dá uma ligeira pausa nas conquistas. Lealdade passa a ser palavra de ordem.

 

Chega a ser curioso falar em aspectos que revelam a maturidade de um personagem que surgiu nas telas pela primeira vez há 50 anos. Mas é isso que parece. Bond já teve todas as mulheres que quis, perdeu amores, derrotou inimigos e, assim, se mostra mais apto – ou mais maduro? – para dialogar diretamente com a audiência de hoje. Na medida em que o agente é mais humano, também é mais crível.

 

O roteiro do 23º filme da série está conectado com as questões do mundo atual. O inimigo é um exemplo. Ainda que esteja personificado no ótimo Silva, de Javier Barden, o vilão chama a atenção para temas caros para a sociedade moderna como o terrorismo, a invasão de computadores, roubo de dados de segurança, bullying. Até insinuações homoeróticas aparecem no duelo dos dois. Quem diria, Mr. Bond recebendo cantada do inimigo!

 

Quando assumiu o personagem, Daniel Craig foi alvo de críticas. Muitas delas direcionadas ao seu físico. Onde já se viu um James Bond baixinho e sisudo? Basta olhar para sacar que nem de longe tem o porte de Sean Connery ou mesmo a elegância de Pierce Brosnam. Mas não é que o ator de olhos azuis convenceu com seu Bond “tosco”. Operação Skyfall ajuda a entender um pouco isso.

 

Se no passado a figura do protagonista concentrava toda a atenção da trama – e por sua vez o ator levava os louros –, a agilidade das narrativas contemporâneas obriga, de certa forma, à matização disso. Assim, ao mesmo tempo em que Bond se dedica a perseguir seus inimigos, várias outros acontecimentos incrementam o enredo. Sinal dos tempos. Aquele Bond aristocrático, excessivamente sedutor e invencível, virou ícone. Como tal, está marcado no passado. Dinâmica é a máxima dos dias de hoje. Assista ao trailer do filme:



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