Mostra de Cinema Mundial - Indie 2012 exibirá 60 filmes em BH

Evento aposta em diretores de prestígio, como o americano Charles Burnett, que denuncia a onda de racismo provocada por Obama

por Gracie Santos 07/09/2012 11:41

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Indie/Divulgação
(foto: Indie/Divulgação)
Quando começa a verdadeira maratona dos festivais de cinema, bate aquela tensão: o que escolher para assistir? Afinal, é impossível ver tudo. É aí que entram em cenas as “estrelas” do meio e as sinopses atraentes. Com a Mostra de Cinema Mundial – Indie 2012, que começa hoje e vai até dia 13, em BH, não será diferente. Serão exibidos 60 filmes, de 18 países, todos com entrada franca, em dois espaços da cidade: o Teatro Oi Futuro Klauss Viana e o Cine Humberto Mauro. Depois, do dia 21 a 4 de outubro, a mostra segue para São Paulo. Se os números do Indie 2012 são menores (já houve, ao longo das 12 edições, eventos com mais de 100 filmes), os realizadores garantem: menor quantidade, maior qualidade. Ainda assim, amantes do cenário musical indie sentirão falta da mostra Música do underground, que ficou de fora este ano. Francesca Azzi, curadora do evento ao lado de sua irmã, Daniela Azzi, e de Eduardo Cerqueira, conta que nessa redução, além da curadoria mais rígida, pesou a “corrida maluca dos festivais atrás de filmes”. Muitos eventos “reservam determinadas obras, o que as impede de entrar em festivais que tenham o ineditismo como exigência, caso do Indie. Daí a ausência de Música do underground. “Os poucos filmes que restaram na seleção de música entraram na Mostra Mundo,” explica Francesca. Mais de 1 mil filmes passaram pela seleção geral. As meninas dos olhos desse Indie são três diretores: Aleksey Balabanov, da Rússia; Charles Burnett, dos EUA; e Kazuyoshi Kumakiri, do Japão, que ganham retrospectivas de suas obras. Burnett (leia entrevista), inclusive, confirmou sua vinda ao Brasil, infelizmente apenas na edição de São Paulo. Destaque também para os novos longas de Apichatpong Weerasethakul, Hotel Mekong; Naomi Kawase, Vestígio; e Brillante Mendoza, Em nome de Deus, além de Apenas o vento, do húngaro Benedek Fliegauf, vencedor do Urso de Prata de Berlim este ano. Apenas em BH haverá mostra do cinema brasileiro contemporâneo. Anote: o Indie Brasil exibe cinco filmes inéditos na cidade: O som ao redor, do pernambucano Kleber Mendonça Filho; Rânia, da cearense Roberta Marques; e os documentários Constantino, de Otávio Cury, e Futuro do pretérito: Tropicalismo now, de Ninho Moraes e Francisco César Filho. E para quem curte terror cômico, Nervo craniano zero, do curitibano Paulo Biscaia. RETROSPECTIVAS A cinematografia de Aleksey Balabanov mescla versatilidade estilística e consistência temática. Em cena, a Rússia burguesa dos bolcheviques, da Revolução de 1917, a soviética e a pós-soviética, a em guerra com a Chechênia, a do início do século ou contemporânea. Histórias com tom de constituição social, ética e moral. Charles Burnett, pouco conhecido no Brasil, dirigiu seu primeiro longa em 1977, O matador de ovelhas (Killer of sheep), que, por sua importância histórica, foi incluído pelo Registro Nacional de Filmes dos EUA na lista das 50 obras a serem preservadas como tesouro nacional pela Biblioteca do Congresso Nacional. Kazuyoshi Kumakiri provocou comoção no Festival de Berlim, em 1998, com Kichiku: Banquete das bestas, obra política e extremamente violenta. Foi o primeiro filme realizado por ele, aos 23 anos. Agora, aos 38, o diretor passou da violência a diferentes gêneros e formatos: dramas psicológicos, histórias de amor, desilusão e desesperança no Japão contemporâneo, ou filmes baseados em mangás.

 

MOSTRA DE CINEMA MUNDIAL  – INDIE 2012 Deesta sexta-feira ao dia 13 Cine Humberto Mauro (136 lugares), Av. Afonso Pena, 1.537, Centro.

Teatro Oi Futuro Klauss Vianna (329 lugares), Av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras.

 

Entrada franca (ingressos disponíveis nas bilheterias dos espaços 30 minutos antes de cada sessão). Programação e informações em www.indiefestival.com.br e (31) 9912-9959.

 

Entrevista

Charles Burnett cineasta

“A América continua segregando”

 

Atualmente, as fronteiras entre filmes de ficção e documentário são realmente pequenas. Que tipo de influência isso pode ter nas suas obras? Meu primeiro filme como estudante foi um documentário histórico. Tive a sorte de ter Basil Wright como professor. Meus primeiros dois filmes, incluído O matador de ovelhas, foram muito influenciados pela ideia que há por trás do documentário e pelo neorrealismo. Procurei criar a ilusão de realidade. Buscava sempre eventos reais para dar forma à narrativa. O matador de ovelhas (1977) foi premiado em Berlim e é considerado tesouro do patrimônio norte-americano. Qual foi a principal mudança que ocorreu a partir disso na sua carreira? Penso que o melhor na minha carreira foi parar de fazer filmes como estudante ou deixar de usar a universidade para fazer filmes. Estava pronto para me arriscar no mundo real, tendo um filme como amostra do que poderia fazer. Tinha que convencer as pessoas que têm dinheiro de que eu poderia fazer um filme que interessaria o público. Como o senhor se sente fazendo filmes independentes no país da Hollywood land? Exige esforço constante trabalhar em Hollywood. Isso sempre foi difícil, mas há 15 anos, era um pouco mais fácil fazer um filme independente e distribuí-lo. Agora, é extremamente difícil. Entretanto, há esperança, porque o equipamento digital é mais barato e acessível. A produção é possível, mas a distribuição continua sendo o maior problema. Também a pirataria incomoda o cineasta independente, já que é extremamente difícil garantir qualquer projeto. Amaria poder viver fazendo filmes independentes, especialmente em minha idade (68 anos). Precisamos fazer alguma coisa para aposentar. Hoje, ficamos muito tempo entre fazer um filme e outro. Você não pode sobreviver sem oportunidades de trabalho. O que mudou para os negros nos EUA com o presidente Barack Obama? Duas coisas ocorreram desde Obama. Uma é a ilusão de que os negros são agora de uma sociedade sem raça, pós-racial. Isso deu a muitas pessoas, de todas as cores, a compreensão de que a América é um estado justo e igualitário. Entretanto, você também vê que isso revelou mais sobre a divisão da sociedade. Parece que as pessoas que eram racistas se tornaram ainda mais racistas e estão formando grupos para expressar isso. Nenhum presidente na história da América teve tantos desafios pessoais como Obama. Todos os direitos civis obtidos no passado estão sob risco. O direito de voto para os negros está sendo minado. Alguns estados estão dificultando que eles registrem seus votos. Mais negros estão sem trabalho. Todo o sistema educacional está sendo atacado. E educação é o meio para que as pessoas negras e pobres mudem seu status econômico. Para meus amigos, o importante, como negros que testemunharam o passado e lutam pelos direitos civis, é que você não pode pensar que essa batalha terminou. Tudo o que ocorreu no passado é cultura, está no DNA de uma pessoa e são necessárias gerações para mudar. Não espero que a primeira eleição de um presidente negro realmente traga mudanças profundas. A América continua segregando em muitos aspectos particulares, mas o fato é que também não havia antes completa integração em todos os níveis para se iniciar uma mudança real.



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