Documentário Vou rifar meu coração ensina: não há nada mais brega que o verdadeiro amor

Dirigido por Ana Rieper, filme estreia nesta sexta-feira

por Sérgio Rodrigo Reis 03/08/2012 07:00

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Raphael Borges/Divulgação
Depoimentos de anônimos se misturam a entrevistas com cantores românticos populares (foto: Raphael Borges/Divulgação)
Atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor. Quem não suspeitou de traição ou já traiu. Quem nunca se apaixonou perdidamente e se viu sem chão de uma hora para outra, fazendo loucuras em nome da pessoa amada. É nesse universo que a cineasta Ana Rieper mergulhou para produzir o documentário Vou rifar meu coração, com depoimentos de anônimos mesclados aos de famosos intérpretes de canções românticas como Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano, Nelson Ned, Amado Batista, Peninha, Walter de Afogados e Wando. Veja mais fotos do filme Confira os horários das sessões
Todos, sem exceção, assumem que, acima de tudo, as letras das composições são como pedaços das próprias almas. Falam do que viveram e, por isso, tocam fundo na alma e no coração dos fãs. O documentário segue a mesma receita. 
 
Sem errar na mão, a cineasta se apropria dos casos, das curiosidades e da dor alheia para provocar na plateia às vezes risos, às vezes compaixão e até certo incômodo com o espelho que se coloca diante de todos. O filme não é uma obra-prima. É apenas correto. O que o torna muito bom de ser visto é a experiência de, ao se imaginar do papel do outro, reconhecer-se em várias das situações. Ao tratar do imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro a partir das letras românticas ou bregas, o documentário aproxima mais a plateia do tema. Pois é difícil encontrar quem viveu no país nas últimas décadas e não conheça parte das músicas retratadas e seus intérpretes. 
 
É de Agnaldo Timóteo uma das declarações mais corajosas. Ao falar sobre a homossexualidade, ele assume que canta os temas que conhece. “Eu não me dou o direito de ter solidão. Quando me sinto desprotegido, pego o carro e vou paquerar”. O cantor Nelson Ned é outro que demonstra franqueza: “Tinha tudo para não dar certo: nasci feio, pobre e pequenininho.
 
E Deus me levantou do pó, literalmente.” Os depoimentos dos anônimos também impressionam. Osmar, um senhor do sertão casado com duas esposas, faz questão de recomendar aos outros: “As duas piores coisas do mundo são perder a eleição e ter duas famílias”. Fala com conhecimento de causa, pois as duas esposas deixam transparecer no filme a dor de dividir o amado, enquanto ele, por sua vez, olha para a situação com tristeza. 
 
As crônicas dos dramas da vida a dois continuam no depoimento corajoso de outro senhor, Maguila, abandonado pela esposa. “Foi-se embora com outro rapaz. Aquilo foi o maior desespero da minha vida.” Enquanto a mulher se foi, a dor da perda nunca o abandonou. Outra entrevistada, Aparecida, deixa transparecer a sabedoria em suas palavras: “Eu li num livro que a paixão é a coisa mais brega que existe. Consome o ser humano”. Como poucos, os artistas tidos como bregas conseguem sintetizar este universo. A cineasta fez o mesmo. Ao se apropriar dessas falas para estruturar Vou rifar meu coração, consegue dialogar com todos, independentemente de classe social, idade ou sexo, sobre algo universal: amores e perdas. 
 
Sem medo de amar
 “Quando pego no microfone, sou um monstro. Ninguém percebe que sou preto, feio, do cabelo duro, porque eu canto muito!”
Agnaldo Timóteo
 “O meu lado feminino? Como assim? Não, eu não tenho este lado feminino, não. Meu lado é totalmente machista, sou macho mesmo.”
Walter de Afogados
 “A virgindade era um documento de casamento para a mulher, então eu resolvi tocar neste assunto, porque eu achava um absurdo isso.”
Wando Assista ao trailer do filme:
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