Walter Salles revela nova dimensão do clássico beatnik On the road

Garrett Hedlund e Sam Riley interpretam Dead Moriarty e Sal Paradise

por Carolina Braga 13/07/2012 09:16

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Playarte Pictures/Divulgação
(foto: Playarte Pictures/Divulgação)
 
Se algo chama a atenção nas primeiras cenas de Na estrada, filme de Walter Salles baseado no romance cult On the road, de Jack Kerouac, é a preferência por closes. O asfalto, a terra, e, logo, passos apressados pelo caminho, ao som de jazz, são mostrados de pertinho. Parecem carregar um convite ao espectador: vem com a gente? Veja mais fotos do filme
Mas capturar o espírito livre dos beatniks não é tarefa fácil. Walter Salles sempre soube disso. Ainda que a intenção do diretor fosse aproximar a câmera em busca da relação sensorial com os personagens, o resultado deixa claro: nem todas as camadas de emoção, despojamento e de entrega criadas por Kerouac podem ser transportadas para a telona. Por mais perto que estejamos deles. 
Quando fala sobre o filme, Salles não esconde o encantamento ao ver tanto desejo guardado – e principalmente liberado – nas atitudes de Dean Moriarty (Garrett Hedlund), Marylou (Kristen Stewart), Carlo Marx (Tom Sturridge) e do narrador Sal Paradise (Sam Riley). Esses jovens só querem viver tudo à flor da pele. Mas, apesar disso, Na estrada não compartilha da mesma ousadia dos “meninos”. Em outras palavras, o filme não embarca totalmente na “loucura” de seus protagonistas. 
Ambientado nos Estados Unidos do final da década de 1940, Na estrada narra as experiências de Sal, Dean e Marylou, que, com o pretexto de buscar a última fronteira americana, procuram por si mesmos. Porém, para eles, limite é algo que não existe, seja geográfico ou nas aventuras envolvendo drogas e sexo livre.
A grande surpresa está no elenco. Há simbiose impressionante entre Garrett Hedlund e seu Dean Moriarty, assim como Kristen e Marylou, Sal e Sam. Até participações menores, como a de Viggo Mortensen (como Old Bull Lee), Kirsten Dunst (Camille), Amy Addams (Jane), Elisabeth Moss (Galatea) e Alice Braga (Terry) são precisas, contribuindo muito para o desenvolvimento emocional da trama. 
Como é de se esperar de um road movie, as imagens são belíssimas. Fotografia impecável de Éric Gautier (que também fez a câmera de Na natureza selvagem, de Sean Penn). Mas a questão é: falta fé na transgressão. Como se ao espectador fosse permitido ser apenas voyeur daquelas experiências, sem compartilhar da intensidade delas. Há um estranho controle, que, inclusive, acaba por deixar muito tímidas as cenas de sexo, seja a dois, a três, heterossexual ou homossexual. 
Na estrada pode ser dividido em duas partes. No início, quando a viagem é mais solar e inconsequente, acompanhamos a trajetória com certo distanciamento. É como se houvesse um julgamento prévio. Curiosamente, na medida em que os personagens amadurecem, essa distância diminui e o filme se torna denso. Aí ele encontra o equilíbrio. 
Tal descompasso mostra que, embora On the road, de Kerouac, seja considerada obra sobre o espírito libertário, Walter Salles optou por revelar outra dimensão do romance. Como o diretor salienta, Na estrada não revela apenas uma trajetória sem consequência. É uma viagem interna que guarda dor, por isso tão complexa. Assista trailer do filme:


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