Entre os muros da escola é crônica sobre a educação na França

13/03/2009 07:00
Imovision/Divulgação
Escola na periferia de Paris é o microcosmos de uma sociedade em crise de valores (foto: Imovision/Divulgação)
Quando dois talentos se unem, não dá outra: ou as coisas se azedam de vez ou o resultado é o melhor possível. Isso pode ser dito da parceria entre o diretor Laurent Cantet e o escritor François Bégaudeau, autor do romance, Entre os muros da escola, que chega em breve às livrarias na trilha do filme. Ao adaptar a obra para o cinema, Cantet faturou a cobiçada Palma de Ouro em Cannes, ano passado; o Lumière de melhor filme; e concorre ao César deste ano, além de ter sido indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A Palma de Ouro voltou a ser dada a um filme francês depois de 21 anos. Em 1987, Maurice Pialat recebeu o prêmio por Sob o sol de Satã. Veja mais fotos de Entre os muros da escola Logo no início da história, passada num colégio público da periferia de Paris, um grupo de professores se prepara para enfrentar o ano letivo. Problemas da França multiétnica estão diariamente nos jornais. Entre os mestres idealistas está o jovem François, professor de francês. Ele é ninguém menos que o romancista François Bégaudeau, que assume o próprio papel no longa. A escolha da disciplina ministrada pelo professor, o idioma francês, não se dá por acaso: a língua é sinal de pertencimento e de exclusão. Confira os horários e onde está passando Entre os muros da escola Muito mais que simplesmente dar aulas, ele pretende fazer com que os alunos participem. Mas a realidade daquela pequena sala é o microcosmos da França contemporânea: rapazes e moças filhos de imigrantes africanos, chineses, antilhanos e arábes – além de franceses pobres, naturalmente. Nessa verdadeira Torre de Babel moderna, começam os problemas, que vão muito além daqueles gerados pela natural rebeldia de adolescentes. Envolvem costumes e diferenças culturais. Entre os muros da escola é mais que uma crônica do ensino na França, é uma metáfora dos impasses de um país. LIBERALISMO Laurent Cantet é dono de uma filmografia que sempre pisou fundo na crítica aos valores do liberalismo econômico sem liberdade humana, e na alienação política dos franceses. Nesse sentido, o longa dá continuidade a um projeto estético e ético composto por obras como Recursos humanos, A agenda e Em direção ao Sul. Seguindo tendência expressiva no cinema contemporâneo, Cantet não contou com atores profissionais no elenco. Tanto os alunos como os educadores, a começar por François Bégaudeau, saíram das oficinas de preparação comandadas pelo cineasta. Sucesso de público, o filme não foi unanimidade na França. O tom documental e a concentração em problemas de relacionamento foi visto por alguns professores como simplificação de uma realidade social muito mais complexa. Cantet tem dito que seu maior modelo é Roberto Rosselini, de Roma– Cidade aberta. Como o diretor italiano, ele gosta da realidade e o conteúdo documental estrutura seus filmes. Mas o fundamental é a emoção, que não pode ser barrada pelas exigências do realismo. Entre os muros da escola é um belo exemplo desse método de fazer cinema. Assista ao trailer de Entre os muros da escola

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