Dupla de cegos apaixonados por carnaval faz festa em meio à multidão em Olinda

O que os fazem ultrapassar as dificuldades é mesmo o gosto pela festa. No caso de Leonardo, o forte é a música. Já para Fernando o melhor mesmo é o contato físico com as pessoas

por Agência Brasil 28/02/2017 18:07

Sumaia Coelho/Agência Brasil
Os amigos Leonardo Ribeiro (esquerda) e Fernando Dias não enxergam, mas adoram carnaval e caíram na folia no carnaval de Olinda (foto: Sumaia Coelho/Agência Brasil)
Atravessar a multidão, enfrentar o empurra-empurra, subir e descer ladeiras de pedra, cruzar calçadas tomadas por ambulantes e ainda conseguir pular nos blocos do carnaval de Olinda não é uma tarefa fácil. Imagine então para pessoas com deficiência visual. Mas nada disso é óbstáculo para os amigos Fernando Dias e Leonardo Ribeiro, que não enxergam, mas adoram carnaval e caíram na folia no carnaval de Olinda. Muito animados, eles acompanharam o Encontro dos Bonecos Gigantes na cidade história hoje (28), pela manhã.

“A dificuldade de locomoção existe, a gente tem que dar um jeito e anda muito. Tem que gostar muito do carnaval para conseguir chegar até Olinda para quem não enxerga”, conta Fernando, auxiliar administrativo de 50 anos, morador do Recife. “Acessibilidade é sempre difícil pra gente. E também a questão da insegurança que estamos vivendo. Mas escutar esse batuque, a galera, é bem gostoso”, completa Leonardo.

Fernando é o amigo que tem mais anos de carnaval. Desde 1983, quando descobriu o prazer pela festa, não perde uma. E essa paixão começou depois de perder a visão, aos 14 anos. “Eu não gostava de carnaval. Fui gostar depois conheci o carnaval de Olinda. É uma das melhores festas que existem”, diz.

Já Leonardo, de 35 anos, servidor público e morador de São Lourenço da Mata, Pernambuco, vive o seu primeiro carnaval. A família o acompanhava em Olinda. No sábado a dupla passou pelo que ele chamou de “aventura de carnaval”: se perderam do grupo e ficaram só os dois no meio da multidão. Mas, no final, deu tudo certo.

“Com o corpo todo”


O que os fazem ultrapassar as dificuldades é mesmo o gosto pela festa. No caso de Leonardo, o forte é a música. Já para Fernando o melhor mesmo é o contato físico com as pessoas, pois quem não enxerga tem a oportunidade de “ver” e sentir com o corpo todo. “A gente tem essa coisa de estar junto com o povo, sentir o movimento do povo. A cidade apertadinha e a gente sente a energia do povo com o movimento. Esse movimento mostra muito o que é dançar o frevo. O contato é tudo aqui nesse carnaval, é muito bom”, afirma.

Para acolher pessoas com deficiência, a estratégia da Prefeitura de Olinda - como a do Recife - foi criar camarotes de acessibilidade, que funcionam com capacidade para receber 100 pessoas por dia, que precisam se inscrever antecipadamente. Localizado na Praça do Carmo, seu objetivo foi acolher tanto pessoas com deficiências físicas como mentais. A estrutura, encerrada hoje, incluía audiodescrição, intérprete de libras e facilitadores de acessibilidade, como rampas de acesso e corrimões.

MAIS SOBRE CARNAVAL