Com estrutura profissional, Bloco da Calixto termina com foliões de alma lavada pela chuva

A cantora Aline Calixto embalou os foliões no trajeto entre a Avenida Bernardo Monteiro até a Rua Professor Moraes, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH

Flávia Ayer 26/02/2017 07:37
 Sidney Lopes/EM/D.A Press
(foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press)
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Em cima do trio, a cantora entoa a Levada louca. “Tem festa no Candeal/ Batuque no Cangerê/ Eu vou levar meu timbal/ Vou tocar samba pra você”. O público vai ao delírio. Mãos para o alto, vozes na mesma levada louca. Poderia ser Ivete Sangalo fazendo o circuito Barra-Ondina, em Salvador. Mas a diva em cima do palco improvisado em cima do caminhão é Aline Calixto, que embala os foliões no trajeto entre a Avenida Bernardo Monteiro até a Rua Professor Moraes, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Aliás, lotado.

A produção fala em 100 mil pessoas, a Polícia Militar nem se arrisca em estimar. “Ano passado tinham 70 mil pessoas. Este ano, não consiga ver o fim do bloco. Tem muito mais gente”, anima-se Aline, cujo bloco se tornou uma das principais atrações do carnaval no sábado à tarde. O esquema tem jeito de superprodução: músicos profissionais, caixas de som potentes, corda para isolar o veículo do público.

Mesmo assim, quem está lá no fim do bloco não consegue escutar. Não ouve, mas pula, dança, bebe e se diverte. Carnaval é uma vez no ano, minha gente. E BH, andam dizendo, está melhor que Salvador. “Aqui fica todo mundo junto, não tem isso de camarote. Aqui estou de pavão, lá ia estar fantasiada de patricinha”, brinca a maquiadora Luiza Pace, de 29 anos, que já pulou carnaval na Bahia e garante que não troca BH por nada.

Até a cantora norte-americana Beyoncé deu as caras no Bloco da Calixto, vestida como no ensaio fotográfico que fez para registrar a gravidez de gêmeos. “Acho a Beyoncé maravilhosa e essa foi a foto mais curtida da internet”, diz a professora Nathália Vieira, de 31 anos, ao contar sobre a inspiração para a fantasia. Carnaval transborda criatividade e, ontem, Calixto deu o ultimato com o tema “solte suas feras”.

Tinha gata, onça, borboleta, índio, pirata, muito brilho, pena, purpurina. Todo mundo apertadinho, subindo a Bernardo Monteiro até chegar na Professor Moraes, ao som de sucessos do axé e do pop. Cruzando a Afonso Pena, destaque para o bloco dos mijões, que preferiram regar o canteiro central de ureia a usar os banheiros químicos instalados próximos dali. Até que o bloco desembarcou na Avenida Getúlio Vargas e, numa espécie de apoteose dos céus, choveu. Como se sabe desde os outros carnavais, chuva nenhuma desanima folião, refresca. “Vou festejar, vou festejar, o teu sofrer, o teu penar”, cantava o mar de gente, ensopado, feliz.

É pra acabar

Samba no ponto A festa começou com tudo em Belo Horizonte, mas quem não participa e precisa dos ônibus sambou para conseguir se deslocar pela cidade. Muitos usuários não sabiam das mudanças nos pontos de embarque e desembarque no Centro e foram pegos de surpresa. Um grupo de foliões que seguia para a Região da Savassi em um coletivo da linha 62 (Estação Venda Nova/Savassi) se assustou quando o cobrador informou que o ponto final estava na Avenida Alfredo Balena. Pessoas que trabalham no trecho da Afonso Pena após a Avenida Brasil tiveram que subir a avenida a pé, atravessando um bloco. Muitos passageiros também foram vistos em pontos de trecho interditado, sem saber das alterações. Não há cartazes nos pontos comunicando a mudança.

Eu, vim!

BH espera 500 mil turistas para o carnaval. Pelo menos 10 deles, vieram de Cataguases, na Zona da Mata Mineira. As primas da família Vale vieram curtir a folia na capital e estão todas hospedadas na casa da Camila Garcia, de 24, a prima que mora em BH. Todas fantasiadas de Mulher Maravilha, elas não estão, literalmente, maravilhadas com a festa. Desde às 6h na rua, foram no Então, Brilha e encerraram o dia no Bloco da Calixto. “Nenhuma cidade faz isso: jogar glitter do helicóptero”, contou uma das meninas. (Flávia Ayer)

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