Prostitutas ficam longe do carnaval na Rua Guaicurus

Em vez dos clientes habituais, a Rua Guaicurus, uma das mais tradicionais zonas de prostituição da capital, recebeu milhares de foliões do bloco Então, Brilha!

por Flávia Ayer 15/02/2015 08:13
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Garota se prepara para atender cliente em bordel (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

"A zona já abriu, Zé? Então deixa eu ir trabalhar, vou lá ficar nua". Bruna, de 26 anos, levanta-se da mesa de café aflita para começar o expediente. No Hotel Brilhante, na Rua Guaicurus, Centro de BH, não existe carnaval. As garotas não estão para diversão, elas querem fazer dinheiro, e sábado é dia de grana alta. Lá fora, os tambores do bloco Então, Brilha! começam a rugir, mas Elisângela, de 39 anos, há 21 na zona, prefere sintonizar o rádio numa balada romântica. Na penumbra de seu quarto de luz rosa e azul, camisinhas estão espalhadas no lençol, sobre o qual a prostituta espera os clientes pelada. "A gente vem aqui dar o máximo de si. Quero tirar R$1 mil hoje", conta.

Em vez dos clientes habituais, a Rua Guaicurus, uma das mais tradicionais zonas de prostituição da capital, recebeu ontem milhares de foliões do bloco Então, Brilha!, que se concentra em frente ao Hotel Brilhante. Mas o universo da zona pouco se revela à folia. Intimidadas pela quantidade de novos frequentadores, as garotas evitam se exibir nas janelas. "O cara que te vê lá embaixo acha que pode te meter a mão", conta Bruna, preocupada se os clientes vão aparecer. "No carnaval, os homens entram de curiosidade e bêbados. Os clientes de sempre ficam apreensivos, porque é perigoso ter câmera. Vários são casados", diz.

Flávia, de 45, tem medo de encontrar conhecidos. A filha pensa que ela é massoterapeuta e nem imagina que é no bordel que a mãe chega a tirar até R$ 12 mil por mês. "Esse carnaval aqui na porta é familiar e eu sou de família, da sociedade. Minha filha estuda na Fumec, depois eu encontro com alguém conhecido", explica. A Bíblia fica aberta em frente à cama, para livrá-la dos perigos da Guaicurus, opção encontrada para manter o padrão de vida depois que ficou viúva, há 13 anos. Ali, Flávia realiza as mais ousadas fantasias o ano inteiro, e não apenas no carnaval. "É comum pedirem para fazer troca de papéis. Teve um que chegou aqui de terno e cinta-liga debaixo. Muitos são carentes e querem só conversar", conta.

Do outro lado da rua, no Hotel Magnífico, Renata, de 34, acompanha o carnaval da janela. Não há por que se esconder. A morena conheceu o marido na zona, no hotel onde trabalhava Hilda Furacão, uma das mais famosas prostitutas da capital. Seu sorriso esconde uma meia insatisfação com a folia. "Adoro carnaval, mas tenho que pagar minhas contas. A Guaicurus não tem nada a ver com isso. Fizeram para o povo, e não para a gente", reclama, enquanto limpa o quarto com desinfetante. Em cima da cômoda, uma coroa de flores que ganhou de um cliente antigo. "Ele que trouxe ontem, nem preparei nada para o carnaval, não. Devo usar hoje com uma cinta-liga preta", explica.

Pela diária do quarto ela paga R$ 130 e receia que o movimento caia. "Nada aqui é de graça, não ganho nem a camisinha. Quero atender pelo menos 30 hoje", conta a prostituta, que cobra R$ 15 por cinco minutos de prazer.

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