Coluna - O Bloco do eu sozinho

"O Pena de Pavão de Krishna é o mais excêntrico e cativante bloco do carnaval de Belo Horizonte"

por Renan Damasceno 03/03/2014 10:18

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%u201CCome. É alu patra%u201D, me ofereceu um simpático casal, que desde as primeiras horas da manhã de ontem ciceroneava os foliões com uma bandeja cheia de bolinhos de batata, açafrão e gengibre. Em seguida, eles me indicaram um canto da praça, situada no Bairro Jardim América, na Região Oeste da capital, onde, debaixo das palmeiras, músicos entoavam um mantra cíclico, acompanhado de percussão e harmônio %u2013 um instrumento com som similar ao de um órgão, mas com fole em vez de tubos. A música e os incensos mantinham uma atmosfera agradável, purificando o ambiente, enquanto os integrantes do bloco se pintavam de azul e se adornavam com penas, lenços coloridos e ornamentos dourados. O Pena de Pavão de Krishna é o mais excêntrico e cativante bloco do carnaval de Belo Horizonte. É a integração do batuque do afoxé com a espiritualidade Hare Krishna, a perfeita mistura do profano e o sagrado, apesar de os membros desta sociedade religiosa não acreditarem nessa dicotomia. %u201CIsso é uma criação do racionalismo ocidental. O conhecimento, a vida, não é compartimentada. Tudo é espírito%u201D, me corrige Mukunda Das, nome adotado pelo devoto Sérgio Mendes desde que ele passou a seguir os ensinamentos de Krishna (a forma suprema de Deus dos hindus), em 1990. Dez devotos moram hoje no templo religioso de Belo Horizonte, no Bairro Prado, fundado em 1984. Eles são figuras carimbadas em eventos na capital, seja distribuindo livretos na Feira de Artesanato da Afonso Pena ou em manifestações políticas %u2013 desde que pacíficas. %u201CÉ só convidar que a gente vai%u201D, conta Nara Simha, que se converteu há 13 anos e ontem puxava o coro de %u201CHare Krishna, Hare Hare/Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama%u201D, por horas a fio. Depois de algumas horas de preparação sob sol forte, despertando a curiosidade de muita gente, o bloco azul se organizou e partiu, subindo as ladeiras da Região Oeste. Um imenso pavão, de papel e isopor, ia à frente, puxado pela bicicleta guiada por um folião vestido de Gandhi. Depois de expirar e inspirar fundo por quase um minuto %u2013 com a multidão de 3 mil pessoas fazendo um estrondoso e relaxante %u201Coooounnnn%u201D %u2013, o violino e o violão deram o tom para o acompanhamento da bateria de cerca de 50 pessoas. Proliferava pelas ladeiras do Jardim América uma música leve e envolvente, um ritmo cheio de ginga e espiritualidade que poderíamos chamar de mantracatu.

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