saiba mais
Carnaval BH 2014 terá palcos da Estação do Samba, desfile de escolas na avenida e blocos
Donas de algumas das mais animadas festas do país, cidades históricas mineiras põem os blocos nas ruas
Carnaval em BH e cidades históricas pode ter chuva
Casas noturnas de BH preparam programação eclética para os dias de Carnaval
Confira a programação oficial de blocos do Carnaval 2014
Carnaval em BH tem blocos por toda cidade, shows e milhares de foliões nas ruas
PALCOS
O bom do carnaval, para Dudu Nicácio, é a liberdade de se divertir sem horários e vários dias de euforia permanente. Ele já criou blocos, coordenou programas dedicados ao samba, participou (e participa) de movimentação que fez da quadra da Escola de Samba Cidade Jardim um espaço cultural. E, por isso mesmo, tem bons motivos, além do crescimento do carnaval na capital, para comemorar: “Ficou mais simples colocar um bloco na rua. Estamos evoluindo”, afirma, lembrando-se de tempos em que, para conseguir liberação, era uma luta. “Era um estresse. Parecia que os foliões iam ser presos a qualquer momento”, recorda. Dudu estará hoje em Ouro Preto, tocando no Largo da Alegria. Fará shows ainda em Itaguara e Congonhas. Terça-feira, ele se apresenta na Praça da Estação com o parceiro carioca Rodrigo Braga.
RUA
Para Rafael Bastos, 30 anos, antropólogo e folião, carnaval é catarse, experiência do êxtase, do encontro, da confraternização. Ele não esconde seu encantamento com a folia de rua: “É olho no olho, corpo a corpo, longe da estrutura do espetáculo”, afirma. “Em local que é de todos e para tudo: encontros, contemplação, festa e protesto, livre de amarras”, acrescenta. É festa, observa, que tem delicadezas: como as pessoas, de dentro de suas casas, jogando água com mangueira nos foliões dos blocos, para amenizar o calor. Ele frequenta blocos como o Praia da Estação, Filhos de Tcha Tcha, Tico-tico Serra Copo e do Peixoto. Viu o nascimento de diversos deles e participa dos desfiles dos grupos há vários anos.
Nem precisa dizer que Rafael Bastos está satisfeito com a multiplicação dos blocos em BH, depois de anos “de ação deliberada” para esvaziá-los. “O carnaval da cidade nunca morreu, foi marginalizado. Sempre esteve vivo em cantinhos perdidos, nas vilas e comunidades”, afirma. Com relação aos novos blocos, considera que eles carregarem reflexão e discussão sobre modos de ocupar o espaço urbano. Trata-se, explica, de apropriação da potência transformadora da festa, e da “licença poética” instalada pelo carnaval, para discutir temas sociais como precariedade do transporte público, falta de moradia, a cidade dos veículos etc. “Desde a Idade Média, com os populares zombando dos senhores e da corte, a política faz parte do carnaval”, lembra.
INTERAÇÃO
“O bom do carnaval é interagir com a cultura da alegria, do encontro e não ficar seguindo uma programação”, defende o historiador Guto Borges, 32 anos. Ele se autodefine “músico de rua”, toca guitarra, percussão “e o que mais vier” nos blocos. Exemplos de ações que também podem se transformar em folia para ele são: um almoço festivo em casa, abraçar manifestações do bairro, ir para rua ver, participar ou tocar nos blocos etc. “São coisas que fortalecem laços comunitários, com vizinhos e amigos”, defende. Algo, observa, que está faltando na vida urbana. “Ninguém precisa se concentrar em apenas um lugar ou grupo”, acrescenta, incentivando a todos a sair da rotina.
Participando de blocos, Guto Borges viu a retomada do carnaval na cidade. Na origem da movimentação, em 2009, ele recorda, esteve a discrepância entre a vontade (“100% espontânea e despretensiosa”) de amigos de brincar carnaval e um discurso que insistia que BH não era terra para a folia. “Ao botarmos o pé na rua, com os blocos, o que vimos foi as pessoas, em especial os mais idosos, chegando na janela para nos saudar, dando o apoio que traduziu a saudade das comemorações. E vimos o quanto a argumentação ‘oficial’ era artificial”, observa. “Sinto que fomos canal para a vontade coletiva de retomar a festa”, conta.
Os primeiros tempos da retomada, lembra com bom humor, foram de dedicação total ao projeto. “Era só uma banda para todos os blocos e tocávamos 12, 13 horas por dia”, recorda Guto. Acrescente-se os vetos da política, do poder público, enfrentados “na raça”, assim como a chuva que, em alguns anos, caiu durante os três dias de festa. “Os blocos não são só a retomada de tradição mas a atualização dela”, acrescenta, avisando que ninguém é nostálgico. O exemplo, deste último aspecto, aponta, pode ser o concurso de marchinhas, que se vale de formato musical antigo para colocar novos conteúdos e considerações. Como folião e instrumentista esteve e vai estar, neste fim de semana, em vários blocos (Manjericão, Vira o Santo, do Peixoto).
“Ficou mais simples colocar um bloco na rua. Estamos evoluindo”
Dudu Nicácio, cantor e compositor
“Carnaval de rua é olho no olho, corpo a corpo, longe da estrutura do espetáculo”
Rafael Bastos, antropólogo e folião
“Os blocos não são só a retomada de tradição mas a atualização dela”
Guto Borges, músico