Em sua 39ª edição, a Banda Mole reuniu cerca de 50 mil pessoas na Avenida Afonso Pena, entre as ruas da Bahia e Guajajaras, em Belo Horizonte. Este ano, os homens ficaram mais tímidos e foram poucos os que se arriscaram a se vestir de mulher – tradicional característica dos foliões da banda. Os corajosos investiram no figurino, com direito a perucas chanel, óculos extravagantes, vestidos apertadinhos, saltos e muita maquiagem. A professora Magda Chahim, de 35 anos, entrou no clima e desfilou com o noivo argentino, Cristian Barria, de 32, de vestido pelas ruas belo-horizontinas. Em sua primeira vez no Brasil, ele garantiu que estava adorando a brincadeira.
A festa teve espaço também para a criatividade do represente comercial Lauro Álvaro, de 76, um dos colaboradores na criação do bloco. Vestido como um presidiário, ele carregava uma placa pedindo contribuições para o seu uísque – clara ironia à campanha que arrecadava dinheiro para pagar multas de condenados no caso mensalão. Sua fantasia fez tanto sucesso que, durante a festa, ele tirou fotos, de bom humor, ao lado de mais de 150 foliões. Homens-melancia, pintados de verde e com a fruta na cabeça, tal qual um capacete, também chamaram a atenção de quem passava.
Com perucas coloridas e bastante samba no pé, Meire Canja, de 53, e Sandra Joana Moraes, de 41, foram pela primeira vez ao evento, atraídas pela recente fama da festa mineira. “Vamos curtir só o pré-carnaval. Na data oficial sempre viajamos para o Rio de Janeiro”, disse Sandra. Depois de experimentar a energia da festa de BH, ela já avisou que marcará presença em todos os blocos que saírem nesta semana.
Assista ao vídeo da TV Alterosa:
Crítica, irreverência e gratuidade são a essência da Banda Mole, segundo um dos idealizadores, Luiz Mário Ladeira, o Jacaré, de 73. Nesta edição, os integrantes da “velha guarda” do bloco vestiam uma camiseta com os dizeres “Ficamos prontos antes da Copa” – crítica à gestão do megaevento que será realizado no Brasil. Jacaré se diz feliz por ter criado um bloco precursor do carnaval de rua de BH, que tem ganhado força nos últimos anos. “É com alegria que vemos os novos bloquinhos surgindo”, ressaltou.
Pela primeira vez, o Bloco Baianas Ozadas, criado há dois anos, fez parte do evento. O publicitário e criador do bloco, o baiano Geo Cardoso, de 35, conta que, em 2012, cancelou sua viagem para Salvador e resolveu fazer uma ala de baianas na festa mineira. Este ano, o bloco faz uma homenagem aos 100 anos do cantor Dorival Caymmi. No ano passado, eles reuniram um público de mil pessoas, atraída pelo som do “axé vintage” de bandas dos anos 1970, 1980 e 1990, como Olodum, Daniela Mercury e Ilê Aiyê.
A banda Mole foi fundada em 1975 por foliões do extinto bloco Leões da Lagoinha. É a “república independente lítero-etílico-carnavalesca”, sem fins lucrativos, com objetivo de resgatar os velhos carnavais e desfiles populares. Que defendeu e defende a irreverência na crítica políticosocial, liberdade de fantasia e gratuidade do evento.