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Estado de Minas

Símbolo da luta pela paz, quadro Guernica de Picasso completa 80 anos

Há oito décadas, bombardeio destruiu a cidade espanhola, inspirando o pintor a conceber sua obra prima


04/04/2017 08:00 - atualizado 04/04/2017 08:29


Obra prima de Picasso está exposta no museu Reina Sofia, depios de alguns anos 'exilada' nos EUA
Obra prima de Picasso está exposta no museu Reina Sofia, depios de alguns anos "exilada" nos EUA (foto: Javier Soriano/AFP)
Madri – Há 80 anos, em uma tarde de primavera, Guernica ardia debaixo das bombas. Dias depois, Pablo Picasso pintava o quadro batizado com o nome da localidade basca que se tornou símbolo universal contra a guerra – da Espanha de 1937 à Síria de 2017.

O quadro voltou à linha de frente, pois a partir de hoje protagoniza uma grande exposição dedicada a seu autor no Museu Reina Sofia, em Madri, onde é exibido há 25 anos.

Seu efeito é tal que, na Organização das Nações Unidas (ONU), os bairros devastados da cidade síria de Aleppo foram descritos há alguns meses como “a Guernica do século 21”.

Não faz muito tempo, algumas reproduções do quadro de Picasso foram vistas em manifestações de sírios contra a guerra, lembra Rosario Peiró, chefe da área de coleções do Museu Reina Sofia, que no ano passado recebeu 3,6 milhões de visitantes.

“Lá estava eu, naquela tarde de 26 de abril (de 1937), recolhendo mortos e feridos na cidade basca de Guernica”, conta Luis Ortiz Alfau, de 100 anos, que mora em Bilbao. “Às quatro da tarde, começaram a chegar três aviões, a cada quarto de hora. Eram aviões alemães e italianos”, relembra ele.

A esquadra apoiava Francisco Franco e os generais golpistas que se rebelaram em 18 de julho de 1936 contra a Segunda República espanhola. “Eles lançaram bombas incendiárias depois de atirar as destrutivas. Foi quando a cidade inteira ardeu”, conta Alfau.

O ataque matou de 150 a 300 cidadãos, de acordo com as últimas estimativas de historiadores. Sobretudo, inaugurou a “guerra ao terror”, que consiste em bombardear a população civil por via aérea, tática repetida várias vezes a partir da Segunda Guerra Mundial.

Dois dias depois do bombardeio espanhol, Pablo Picasso, em sua oficina da Rue des Grands-Augustins, em Paris, tomou contato com as primeiras fotos da tragédia. Em 1º de maio, começou os esboços preparatórios. Um dos maiores nomes da pintura mundial, ele já militava em defesa da Segunda República espanhola.

A tela, feita a partir de preto, branco e cinza, respondia a um pedido das autoridades republicanas espanholas. Em 1937, ela foi exibida na Exposição Universal de Paris.

TOURO

Na tela, com 3,49m de altura por 7,76m de comprimento, uma mãe com o filho morto nos braços se contorce de dor, sob o olhar impassível de um touro. No chão jaz o miliciano desmembrado, com uma espada quebrada e pisoteado pelo cavalo em fuga.

“Impactaram-me suas dimensões, posso imaginar o que foi a guerra espanhola”, diz Takahiro Yoshino, um japonês de 20 anos, no Museu Reina Sofia, absorto diante da pintura. “Os personagens parecem gritar”, comenta ele.

“Por que estão tristes?”, perguntam crianças de 3 anos, sentadas na frente da tela. “Porque Picasso também estava muito triste”, responde a professora Sonia Seco.

Certa vez, o poeta francês Michel Leiris permaneceu parado diante da tela, estupefato por algo “assombrosamente belo”. “Picasso nos envia nossa carta de luto: tudo o que amamos vai morrer”, escreveu ele.

Símbolo da resistência

Guernica viveu como um “exilado espanhol”, conta Rosario Peiró, chefe da área de coleções do Museu Reina Sofia. A partir de 1937, iniciou longa viagem pela Europa e Estados Unidos, que inicialmente serviu para arrecadar fundos para os refugiados de guerra espanhóis.

Confiada ao nova-iorquino Museu de Arte Moderna (MoMA) em 1939, ano em que o ditador Francisco Franco venceu a guerra civil espanhola, a obra permaneceu mais de 40 anos nos Estados Unidos.

Filiado ao Partido Comunista francês em 1944, Picasso havia determinado que a pintura só poderia voltar ao país natal quando fossem devolvidas ao povo espanhol as liberdades democráticas usurpadas pela ditadura de Francisco Franco.

Na Espanha, a obra de Picasso se tornou um símbolo poderoso. “Antifranquistas penduravam em suas paredes o cartaz do Guernica”, lembra Emmanuel Guigon, diretor do Museu Picasso, em Barcelona.

Em 1981, oito anos depois da morte do pintor, o quadro viajou à Espanha, já em plena transição democrática. Primeiramente, foi exibido numa dependência anexa do Museu do Prado. Na época, ficou atrás de “um triste bunker de vidro à prova de explosões e balas (que) afastava o espectador”, em um país cuja memória histórica estava “longe de ser pacificada”, como observou o escritor Jorge Semprún (1923-2011), ministro da Cultura da Espanha de 1988 a 1991.

“A importância de Guernica no inconsciente coletivo é tal que o defino como um trabalho espiritual, sempre com o objetivo de promover a paz”, diz Bernardo Ruiz-Picasso, neto do pintor. (Laurence Boutreux/AFP)

Saiba mais

Pablo Picasso

O espanhol Pablo Picasso  (1881-1973) foi um dos criadores do cubismo, movimento que revolucionou a pintura no início da década de 1900. Pintor, escultor e desenhista (foto), foi um dos homens que mais influenciaram as artes visuais no século 20. Além de Guernica (1937), entre suas obras-primas estão os quadros Retrato de Gertrud Stein (1906), Le demoiselles d’Avignon (1906), Moça com bandolim (1910) e Os três músicos (1921).


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